O que acontece neste sábado (7) em Israel está relacionado a dois elementos fundamentais: estamos testemunhando um ataque terrorista em grande escala e, em segundo plano, uma modificação no equilíbrio estratégico do conflito diante de nossos olhos.
Esse mega-atentado terrorista está relacionado com a entrada em campo de uma lógica fundamentalmente baseada no ataque à civis.
O Hamas, que em alguns momentos chegou a ser efetivamente parceiro de Binyamin Netanyahu a partir da manutenção da administração da Faixa de Gaza e da renúncia da estratégia de construção de dois Estados, agora entra em Israel e ataca os civis, em uma incursão por terra e ar. Essa é a lógica do terror. Não é a lógica da guerra convencional.
Mas o segundo elemento é a quebra do equilíbrio estratégico.
Quando o Hamas empreende uma invasão terrestre e não mais se baseia unicamente no lançamento de foguetes a Israel —especialmente considerando que a maioria deles é interceptada pelo sistema Iron Dome, ou Domo de Ferro— o país se percebe completamente desestabilizado e vulnerável.
E aqui temos uma situação de crise estratégica. Ou mais do que isso. Israel está hoje nas mãos de uma extrema direita que aposta no não acordo e na gestão do conflito.
A lógica de terror do Hamas, evidenciada neste sábado em seu nível mais extremo, aponta para uma perspectiva de que não é mais possível administrar o conflito, enfraquecendo a posição alimentada até aqui pelo governo atual.
Essa mudança de equilíbrio estratégico afeta profundamente o horizonte em relação ao que vai ocorrer. Nos referimos aqui, por exemplo, à existência de reféns israelenses na Faixa de Gaza, como um dos resultados da invasão terrestre ao Estado de Israel, até então inimaginável.
Mas também nos referimos à uma perspectiva promovida por Netanyahu de polarização extrema da sociedade israelense e de negação da viabilidade dos acordos de paz. O Hamas, antes parceiro nesse lugar cômodo do não acordo, agora avança para a invasão concreta, deixando Israel de joelhos. Despreparado. A ideia de vulnerabilidade do Exército de Israel foi colocada na mesa e é uma preocupação persistente.
O que vai acontecer não se sabe. Mas a questão fundamental é que essa é uma derrota histórica para a perspectiva de Netanyahu, que sinaliza para o ressurgimento dos debates sobre os acordos de paz.
Netanyahu precisa do apoio da sociedade israelense para justificar uma guerra de unidade nacional, mas é muito difícil acreditar que ele consiga se manter no cargo por muito tempo.
E é muito fácil acreditar que estamos passando por um momento histórico, uma mudança na dimensão estratégica da relação entre Israel e seus vizinhos palestinos.
Binyamin Netanyahu apostou e perdeu todas as apostas que fez. Todas elas com custos muito altos.