Com a decisão final provavelmente atirada para daqui a duas semanas, quando se contarem os votos das comunidades portuguesas na Europa e fora da Europa, nomeadamente no Brasil, a eleição para premiê deixa o país luso no meio de um pântano político, que pode originar qualquer cenário: maioria de direita, de esquerda, ou mesmo a marcação de novas eleições ainda este ano.
O partido Chega, que multiplica por quatro o número de cadeiras, obrigou a que as siglas tradicionais, o Partido Socialista (PS) e a coligação de direita social-democrata (AD), se posicionassem diante da nova força política. O PS disse que não pretende formar um bloco com a AD, e esta cobrou “apoio” dos socialistas e exige ser governo.
No espírito do tempo da política portuguesa, acabamos de testemunhar uma eleição que pode muito bem ser interpretada como um divisor de águas na história contemporânea do país. Os ventos da mudança sopram fortes e trazem consigo a voz de um eleitorado que clama por reformas, novas abordagens e uma ruptura com o passado.
Neste palco recém-desenhado, o Chega surge não apenas como uma figura de retórica inflamada, mas como um ator principal que obriga os partidos tradicionais a um confronto direto com suas próprias insuficiências e com as exigências de uma sociedade em evolução.
O PS, que já foi a voz predominante do progressismo, e o PSD, bastião do conservadorismo moderado, veem-se agora na iminência de terem de reinventar suas narrativas e políticas para continuarem relevantes. Os resultados eleitorais são um claro indicativo de que o eleitorado deseja mais do que a gestão do status quo: deseja uma visão para o futuro que responda aos desafios atuais, sejam eles a desigualdade social, a sustentabilidade ambiental ou a integração europeia.
A entrada do Chega no cenário político é, por isso, uma oportunidade para os partidos tradicionais reafirmarem seu valor ou se reinventarem. Não é o momento para a complacência, mas para uma ação decidida e uma liderança audaciosa que possa canalizar o ímpeto de mudança para um Portugal mais justo e próspero. Este é o momento para a política tradicional mostrar que pode ser não só um porto seguro em tempos de incerteza, mas também um farol que guia o país em direção a um futuro promissor.
Esta reconfiguração política em Portugal possui também implicações significativas para a comunidade brasileira e para a política de imigração como um todo. A presença crescente do Chega, com a sua agenda política que inclui pontos de vista mais restritivos sobre a imigração, poderá suscitar ansiedade entre os imigrantes que buscam estabilidade e aceitação.
É crucial que os partidos tradicionais atendam a estas preocupações, oferecendo uma resposta equilibrada que assegure aos brasileiros residentes e a outros imigrantes que Portugal continuará a ser um lugar de acolhimento e de oportunidades.
Os partidos estabelecidos devem agora, antes tarde do que nunca, advogar publicamente por políticas que promovam a integração efetiva dos imigrantes, reconhecendo as suas contribuições culturais e econômicas e assegurando que o discurso nacionalista emergente não marginalize aqueles que consideram Portugal seu lar.
A capacidade de manter uma política de imigração inclusiva e justa será um teste decisivo para a resiliência dos valores democráticos portugueses e para a imagem de Portugal como uma sociedade aberta e progressista no contexto europeu e global.
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