Milhares de manifestantes travaram as principais avenidas do centro de Buenos Aires nesta terça (28), pedindo que o governo peronista de Alberto Fernández e o ministro da Economia Sergio Massa realizem o que chamam de “promessas não cumpridas” antes de entregar a Presidência da Argentina ao ultraliberal Javier Milei, no próximo dia 10 de dezembro.
Entre as reivindicações estão a garantia do pagamento do 13º salário em dezembro e o aumento dos programas sociais equivalente à inflação até o final do mandato, além de alimentos para refeitórios populares, máquinas e ferramentas para empreendimentos produtivos e cestas de Natal.
O ato foi organizado pelos chamados “piqueteiros”, um conjunto de organizações de esquerda que usam o fechamento de ruas como principal forma de protesto desde a década de 1990 no país. Uma das organizações que lidera esse grupo é o Polo Obrero, ou Polo Operário em português, composto por trabalhadores desempregados ou de baixa renda.
Na prática, o ato também serve como um aviso a Milei, que promete fortes cortes de gastos públicos e de ministérios. As organizações aprovaram o protesto desta terça em assembleia na semana passada, na qual também anunciaram novas manifestações com interdições de ruas nos dias 19 e 20 de dezembro, depois que ele assumir.
“Paremos nas ruas a motosserra contra os bairros, os trabalhadores, a juventude e as mulheres”, diz o documento aprovado na convenção, em referência às suas promessas. O texto também critica sindicatos e organizações sociais alinhadas à gestão peronista por terem “abandonado os trabalhadores em nome de seu apoio político ao governo”.
“As organizações que participaram deste encontro reivindicam terem enfrentado a política de fome, miséria e ajuste do governo da [coalizão governista] Frente de Todos durante todo o seu mandato, assim como ter enfrentado também as políticas de ajuste e repressão de Mauricio Macri”, presidente de 2015 a 2019.
Como a Folha mostrou, a primeira semana após a vitória de Milei nas urnas foi marcada por um clima de apreensão entre os funcionários de empresas estatais e ministérios, assim como um alerta nos sindicatos, que convocaram assembleias, marcaram reuniões e começaram a articular “planos de luta”.
Por outro lado, essa parte das organizações dizem que vão esperar medidas concretas após a posse do presidente eleito antes de “tomar as ruas”, ainda que citem o medo de eventuais repressões policiais. Também apostam que tentativas de privatização serão barradas no Congresso, onde a maior força ainda é o peronismo.
No ato desta terça, os “piqueteiros” se reuniram por volta das 10h e caminham cerca de 2,5 km no total. Eles bloquearam a avenida 9 de Julho, uma das principais artérias do centro de Buenos Aires, até chegar ao Ministério do Desenvolvimento Social, o edifício que possui os famosos murais com o rosto da ex-primeira dama Eva Perón.
Depois, passaram a andar até o Ministério da Economia, comandado pelo candidato à Presidência derrotado Massa, ao lado da Casa Rosada e da Praça de Maio. Nas ruas da região, se formou uma grande fila de carros, onde motoristas que esperavam mais de uma hora reclamavam de mais um bloqueio de ruas, enquanto alguns criticavam a falta de “cultura do trabalho” no país.
Protestos parecidos também foram registrados em outras regiões do país, como em Córdoba, Mendoza e Santa Fé.