Patricia Bullrich, candidata à Presidência da Argentina pela oposição de direita, criticou a entrada do país nos Brics. “Quero deixar uma coisa muito clara: expusemos nossa posição contrária à entrada no Brics”, afirmou a líder do PRO, partido do ex-presidente Mauricio Macri, logo após o presidente peronista Alberto Fernández anunciar a adesão nesta quinta (24).
Além da Argentina, a partir de janeiro o bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul passará também a ter Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Egito e Irã.
“O presidente da nação, que está em uma situação de enorme fragilidade e sem exercer seu cargo, acaba de comprometer a Argentina com a adesão aos Brics, no momento em que a guerra está ocorrendo na Ucrânia e junto ao Irã, país com o qual temos uma ferida aberta”, disse ela durante discurso à organização de livre comércio Conselho das Américas, em Buenos Aires.
A relação entre Argentina e Irã é marcada por um atentado à Associação Mutual Israelita Argentina (Amia) em 1994, que matou 85 pessoas e deixou centenas de feridos. A suposta participação de iranianos no ataque e a falta de cooperação do país islâmico nas investigações geraram tensões diplomáticas que perduram até hoje.
“O que pensariam se a Argentina articulasse a entrada do Brasil em um grupo em que há um país apontado pela Justiça brasileira como responsável por uma agressão contra o Brasil?”, disse à Folha Diego Guelar, ex-embaixador da Argentina no Brasil e um dos conselheiros de Bullrich, acrescentando que seu país condena a invasão da Ucrânia pela Rússia.
Ele afirma entender a amizade pessoal entre Lula e Fernández, mas argumenta que a inclusão da Argentina ao Brics é “inconveniente” e “inoportuna” em meio a uma campanha eleitoral, e no mínimo o tema deveria ser discutido fora desse contexto.
Ele ressalta que o atual presidente sequer está concorrendo à reeleição e que o candidato governista, o ministro da Economia Sergio Massa, teve apenas 20% dos votos nas eleições primárias do último dia 13, nas quais Bullrich que derrotou o governante de Buenos Aires, Horacio Larreta, na interna do partido.
Outros diplomatas ligados à oposição foram na mesma linha. “A adesão da Argentina aos Brics deveria ser minimamente acertada entre as forças políticas, e não decidida às pressas por um governo em retirada após uma derrota eleitoral em que mais de 70% dos argentinos rejeitaram o partido no poder”, publicou nas redes sociais Mariano Caucino, ex-embaixador argentino em Israel e Costa Rica.
Mesmo antes do pleito, a coalizão já vinha indicando que era contra o ingresso no bloco. “Está claro que pertencemos ao Ocidente, mas manteremos a relação com a China. A rota da seda, sim; a entrada nos Brics, não”, disse o ex-vice-chanceler Martín Redrado, então na equipe de Larreta, ao jornal La Nación.
Fernández, por sua vez, defendeu a decisão de entrar no bloco, ressaltando que os cinco países que compõem os Brics atualmente representam 30% do destino das exportações argentinas. “A Argentina não deve perder nenhuma instância de integração que sirva para potencializar seu crescimento”, disse o presidente em pronunciamento.
“Aumentar a capacidade de exportação para os países membros, assim como fortalecer nossas oportunidades comerciais com países que mantêm relações de segundo nível com eles, é uma oportunidade que nos está sendo apresentada”, afirmou.