Estudantes judeus apresentaram denúncia à Justiça nesta quarta-feira (10) acusando a renomada Universidade Harvard de permitir que seu campus se torne um novo “bastião desenfreado de antissemitismo” em meio ao contexto da guerra no Oriente Médio.
Seis alunos afirmam que Harvard aplica de forma seletiva suas políticas contra discriminação de modo a não proteger estudantes judeus. Eles também dizem que a instituição tem ignorado seus apelos por proteção e contratado docentes que propagam ideias antissemitas.
Ainda na denúncia os alunos afirmam que o histórico de Harvard mostra uma universidade que coíbe abuso semelhante a quaisquer outros grupos, menos contra judeus, e que veta pedidos de aniquilação de qualquer país —a menos que este seja Israel.
Eles dizem que a universidade americana trata os judeus como “indignos do respeito e proteção que concede a outros grupos”.
Os estudantes buscam uma liminar para interromper o que dizem ser violações de Harvard à Lei dos Direitos Civis nos Estados Unidos, de 1964, que proíbe os destinatários de fundos federais de permitir discriminação com base em raça, religião e origem nacional.
O processo é apresentado apenas oito dias após a então reitora de Harvard, Claudine Gay, renunciar ao cargo pressionada por críticas relacionadas à sua forma de lidar com o antissemitismo no campus e com sua produção acadêmica —ela, que foi a primeira mulher negra reitora da instituição, foi também acusada de plágio.
A universidade se recusou a comentar a denúncia, apresentada em um tribunal de Boston, quando questionada pela agência Reuters.
Os autores da queixa incluem Alexander Kestenbaum, estudante na Escola de Divindade de Harvard (voltada para estudos religiosos), e cinco estudantes não identificados das escolas de direito e saúde pública. O grupo é apoiado pela organização Students Against Antisemitism (estudantes contra o antissemitismo).
Outras instituições de ensino que enfrentaram processos semelhantes a esse nos EUA incluem a Universidade de Nova York, a Universidade da Califórnia, Berkeley e a Universidade da Pensilvânia. Instituições acadêmicas ao redor do mundo têm assistido a disputas sobre liberdade de expressão e direito de protesto desde o início da guerra entre Israel e o Hamas em Gaza.
Em novembro passado, o Departamento de Educação dos EUA abriu uma investigação sobre a maneira como Harvard lidou com o antissemitismo no campus. Um painel da Câmara dos Representantes (equivalente à Câmara dos Deputados) também examina o tema.
De acordo com a denúncia formalizada nesta quarta-feira, o antissemitismo não é algo novo em Harvard, universidade fundada em 1636, mas tem aumentado desde o ataque do Hamas.
Mais de 30 grupos estudantis da universidade assinaram uma petição no dia seguinte ao ataque da facção terrorista palestina culpando Israel. Os autores da denúncia feita na Justiça afirmaram que Harvard levou apenas um dia para responder na ocasião, mas não condenou a petição ou o Hamas, nem sequer ofereceu apoio aos estudantes judeus.
Mas, depois que um caminhão com um outdoor circulou pelo campus e identificou os nomes dos membros de grupos que apoiavam a petição contra Tel Aviv, Harvard ofereceu proteção a esses estudantes contra o “ataque repugnante à nossa comunidade”, diz a queixa dos alunos.
As “duplas medidas” de Harvard são injustificadas, afirmam eles. O texto detalha casos, um deles o de dois estudantes de direito, ambos “visivelmente judeus” com base em suas roupas, que dizem que foram regularmente alvo de ataques no espaço comum dos estudantes.
A queixa afirma que há um preconceito institucionalizado em Harvard que se estende até mesmo às admissões de novos alunos e cita uma suposta queda de 60% no número de estudantes judeus. “A principal universidade dos EUA se tornou um bastião de ódio e assédio antijudaico desenfreado”, argumentam.
O processo busca indenizações compensatórias e punitivas e exige que Harvard suspenda ou expulse alunos que pratiquem antissemitismo. “Está claro que Harvard não corrigirá seu problema de antissemitismo profundamente enraizado voluntariamente”, disse o advogado dos estudantes, Marc Kasowitz.
Colaborou Nate Raymond, de Boston