O governo de Israel divulgou nesta quarta-feira (18) um áudio em que supostos integrantes do grupo terrorista Hamas conversam sobre a explosão que matou centenas de pessoas em um hospital da Faixa de Gaza. Na gravação, um homem sugere que o artefato foi disparado pela facção Jihad Islâmico.
O material foi divulgado pelo Consulado-Geral de Israel, que não informou como o diálogo foi captado nem forneceu outros detalhes. Os supostos terroristas conversam em árabe e são identificados em legendas apenas como “Operacional Hamas #1” e “Operacional Hamas #2”.
“Estou dizendo que esta é a primeira vez que vemos um míssil como este cair. Por isso estão dizendo que pertence à Jihad Islâmica palestina”, diz um homem na gravação.
“E [o míssil] era nosso?”, pergunta o outro homem no áudio. “Parece que sim”, responde.
A explosão no hospital da Cidade de Gaza, a mais populosa da faixa homônima, matou cerca de 500 pessoas nesta terça (17), segundo o Ministério da Saúde local. Membros da pasta acusam Israel de direcionar o ataque à unidade, que estava superlotada de pacientes e de civis que buscavam abrigo.
As forças israelenses negam envolvimento no caso —segundo o Ministério da Defesa israelense, um dos artefatos disparados pelo Jihad Islâmico caiu antes de chegar ao destino, no território vizinho. A organização terrorista, por sua vez, refuta a alegação.
Em texto que acompanha o áudio, o consulado israelense descreve o episódio como “a mentira” e lista o que seriam “evidências cuidadosamente averiguadas” que mostrariam “a verdade” sobre a explosão.
Segundo o documento, em 11 dias de guerra, mais de 450 foguetes lançados por organizações terroristas contra Israel falharam e caíram em território palestino, atingindo civis e provocando danos à infraestrutura local. “Nos últimos 11 dias, 7.114 foguetes foram lançados contra Israel, dentre os quais, entre 5% e 8% falharam”, diz o texto. “Ontem assistimos a uma destas falhas”, acrescenta.
Ainda de acordo com o consulado, os lançamentos foram registrados por câmeras e outros dispositivos de monitoramento. Os materiais, diz o texto, mostram que o míssil deveria cair em Israel”. Na gravação, um dos homens diz que os artefatos foram disparados de um cemitério próximo do hospital.
O episódio provocou protestos e já teve consequências regionais —foi cancelada a reunião marcada na Jordânia nesta quarta para amainar as tensões regionais, encontro que contaria com os líderes de Egito, EUA e Autoridade Palestina. A chancelaria em Amã disse que seria “inútil qualquer conversa sobre assuntos que não sejam para colocar um ponto final na guerra”.
Antes da explosão no hospital, as autoridades de saúde em Gaza disseram que pelo menos 3.000 pessoas haviam morrido nos bombardeio de 11 dias lançados por Israel, que começou após um ataque do Hamas em 7 de outubro, no qual 1.400 pessoas foram mortas em território israelense e cerca de 200 foram levadas para Gaza como reféns.
Ao lançar a ofensiva contra território israelense, o Hamas teria adotado uma abordagem de baixa tecnologia, evitando a capacidade de Israel de interceptar suas comunicações eletrônicas, segundo agentes de inteligência.
Leia a transcrição do áudio divulgado por Israel
Hamas 2: Estou dizendo que esta é a primeira vez que vemos um míssil como este cair. Por isso estão dizendo que pertence à Jihad Islâmica palestina.
Hamas 1: O quê?
Hamas 2: Estão dizendo que pertence à Jihad Islâmica palestina.
Hamas 1: E era nosso?
Hamas 2: Parece que sim.
Hamas 1: Quem disse isso?
Hamas 2: Estão dizendo que o espigão do míssil é um espigão local, não como os do lado de Israel.
Hamas 1: O que está dizendo?
Hamas 2: Mas, pelo amor de Deus, não poderia ter encontrado outro lugar para explodir?
Hamas 1: Não importa. Sim, eles dispararam do cemitério atrás do hospital.
Hamas 2: O quê?
Hamas 1: Eles dispararam do cemitério que fica atrás do hospital Al-Ma’amadani e, por erro de ignição, caiu sobre eles.
Hamas 2: Mas há um cemitério atrás do hospital?
Hamas 1: Sim! O hospital Al-Ma’amadani fica no complexo.
Hamas 2: Onde fica quando se entra no complexo?
Hamas 1: Primeiro entra-se no complexo e não se vai em direção à cidade. Fica do lado direito do hospital Al-Ma’amadani .
Hamas 2: Ah, sim, eu conheço.