A líder da oposição venezuelana, María Corina Machado, disse em entrevista à agência de notícias Reuters que protestos de rua e pressão internacional ainda são capazes de derrubar o ditador Nicolás Maduro um mês depois das contestadas eleições presidenciais do país.
“É a coordenação entre forças internas e externas que vai alcançar a mudança”, disse María Corina. “O que o Maduro ainda tem? Um grupo reduzido de militares de alta patente, os juízes [da corte suprema], e armas. Ele está se apoiando no medo.”
A líder opositora, que foi impedida de concorrer à Presidência e indicou em seu lugar o ex-diplomata Edmundo González, disse que seu campo político tem uma “estratégia robusta” para chegar ao poder, mas não deu detalhes.
“Estamos avançando simultaneamente em várias frentes: opinião pública nacional, manter nossa gente focada no objetivo…Não podemos subestimar as pessoas. Elas estão informadas, alinhadas, protegendo umas às outras e denunciando os abusos do regime”, disse María Corina.
Ela disse descartar a possibilidade de que Maduro conseguirá permanecer no poder apoiado apenas pelas Forças Armadas, e convocou novos protestos para a quarta-feira (28), quando se completa um mês desde as eleições presidenciais. O chavismo também anunciou manifestações de rua no mesmo dia.
A oposição sustenta que venceu as eleições do dia 28 de julho, apesar da declaração oficial do CNE (Conselho Nacional Eleitoral) da Venezuela confirmando a reeleição de Maduro, sem apresentar as atas eleitorais, documentos detalhando os votos por urna, que comprovariam esse resultado.
O regime ainda não veio a público com as atas, mas diz que as entregou ao TSJ (Tribunal Supremo de Justiça) quando pediu à corte suprema que referendasse a vitória de Maduro —o que aconteceu na última quinta-feira (22). Tanto o CNE quanto o TSJ são considerados órgão controlados pelo regime.
A coalizão opositora, por sua vez, diz ter publicado as atas eleitorais às quais teve acesso e afirma que elas comprovam a vitória de González sobre Maduro. Análises independentes vêm corroborando essa versão, e órgãos internacionais dizem que os documentos publicados têm alta probabilidade de serem verdadeiros.
Nesta terça (27), González ignorou pela segunda vez a intimação contra ele feita pelo Ministério Público da Venezuela para depor no âmbito de uma investigação criminal contra ele por divulgar as atas eleitorais em um site. O ex-diplomata, que não aparece em público desde o dia 30 de julho, é acusado de crimes como usurpação de função pública e fraude de documentos públicos. María Corina é outra investigada.
González também faltou na primeira intimação, marcada para esta segunda (26). A convocação do procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, não especifica em que qualidade o ex-diplomata foi chamado a depor: se como acusado, testemunha ou especialista, como determina a legislação venezuelana. A intimação menciona “uma entrevista relacionada aos fatos que este gabinete está investigando”.
O ex-diplomata diz que a convocação se trata de “uma intimação sem garantias de independência ou devido processo legal”, e chamou Saab de “acusador político”.
Maduro, por sua vez, disse que González é um covarde. Saab responsabiliza ainda o ex-candidato e María Corina por atos de violência em protestos desde as eleições que deixaram 27 mortos, quase 200 feridos e mais de 2.400 detidos pelas forças de repressão do regime.
A coalizão opositora de María Corina e González disseram na terça que sofrem “perseguição judicial”. “A reiterada convocação do Ministério Público busca justificar um mandato de prisão contra nosso candidato vencedor, para acentuar sua perseguição”, disse o grupo de partidos. A lei venezuelana prevê a possibilidade de prisão para quem faltar três vezes a uma intimação.
Ainda nesta terça, María Corina denunciou o desaparecimento de Perkins Rocha, advogado da oposição e representante deste campo político junto ao CNE. “Querem nos dobrar, nos confundir e nos aterrorizar. Seguiremos adiante”, disse a política.
A líder da oposição venezuelana está entre os três finalistas do prêmio Vaclav Havel do Conselho da Europa, que reconhece ações em defesa dos direitos humanos, segundo anunciou a organização nesta terça-feira.