O presidente da França, Emmanuel Macron, recebeu nesta sexta-feira (23) líderes partidários da coalizão de esquerda NFP (Nova Frente Popular), que obteve mais votos nas eleições legislativas de julho, a fim de iniciar as consultas com diferentes forças políticas e tentar formar um novo governo quase dois meses depois do pleito.
Embora tenha sido o grupo de partidos mais votado, a NFP conquistou apenas 193 das 577 cadeiras da Assembleia Nacional, 96 a menos do que o necessário para ter maioria simples. Apesar disso, a coalizão formada por partidos socialistas, comunistas e ambientalistas busca aval de Macron para tentar formar um governo, e propõe como primeira-ministra a economista Lucie Castets.
Segundo a Constituição francesa, a escolha do primeiro-ministro é prerrogativa do presidente, mas o nome precisa ter apoio da maioria do Parlamento. Até aqui, Macron resiste a nomear Castets, sob o argumento de que a esquerda não conseguirá negociar essa maioria, e disse que ainda vai se reunir com outros partidos antes de tomar uma decisão.
Além da NFP, a aliança de Macron obteve 166 deputados na eleição legislativa, convocada pelo presidente em uma aposta de que uma campanha agressiva o colocaria em uma posição mais confortável no Parlamento e impediria que a ultradireita chegasse ao poder.
Nesse ponto, a jogada foi bem-sucedida: a RN (Reunião Nacional) de Marine Le Pen, saiu das eleições com 142 assentos, muito menos do que as pesquisas projetavam, graças a uma aliança entre as esquerdas da França e acordos com centristas no segundo turno.
“Estou disposta a construir coalizões, a debater com as demais forças políticas para tentar encontrar um caminho para garantir a estabilidade do país e responder às necessidades urgentes dos franceses”, afirmou Castets após o encontro com Macron, antecipando a difícil busca por maioria na Assembleia Nacional.
“Dissemos [a Macron] que cabe à força política que terminou em primeiro nas urnas a formação de um novo governo”, prosseguiu a economista e servidora pública.
Deputados centristas e de ultradireita já disseram que não apoiarão um premiê de esquerda, principalmente se o partido LFI (A França Insubmissa), de Jean-Luc Mélenchon, fizer parte do governo. A situação ameaça jogar o país em caos político: o líder comunista Fabien Roussel disse que não nomear “um primeiro-ministro de uma coalizão” que obteve mais votos se assemelha “a um golpe de Estado”.
A líder ambientalista Marine Tondelier, da NFP, pediu ao presidente uma decisão “até terça-feira”, após as consultas —que continuarão na segunda-feira (26) com os ultradireitistas Le Pen e Jordan Bardella.