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Taylor Swift e o peso de celebridades na eleição dos EUA – 21/08/2024 – Lúcia Guimarães

A pergunta une adolescentes e grisalhos veteranos de campanhas políticas. Taylor Swift pode decidir uma eleição? Esta pergunta soa um tanto ridícula, se não levarmos em conta que eleições presidenciais americanas podem virar com algumas dezenas de milhares de eleitores, neste país de 330 milhões de habitantes. É a consequência da distorção imposta pela eleição decidida pelo Colégio Eleitoral que, através de delegados, substitui a norma democrática “um eleitor = um voto”. Neste milênio, só um republicano —George W. Bush, em 2004— chegou à Casa Branca vencendo no voto popular.

É difícil encontrar, na história da cultura popular, uma celebridade com tanto poder de influência como Taylor Swift. John Lennon cometeu o pecado de dizer, em 1966, que os Beatles eram mais populares do que Jesus Cristo, mas há uma diferença no poder da fama entre os tempos analógicos e o presente digital. Quando Donald Trump, para surpresa de ninguém, mentiu, nesta semana, sobre o inexistente apoio de Taylor Swift à sua campanha na rede social, ele admitiu a influência da artista, além de se expor a uma épica ação de danos na Justiça.

Taylor Swift jamais vai endossar Donald Trump. Ela apoiou a chapa Joe Biden/Kamala Harris em 2020, só quatro semanas antes da eleição, com uma cautela na escolha de palavras que faria a finada rainha Elizabeth 2ª parecer meio punk.

Swift é muito inteligente e não exerce seu poder com abandono –nem com gestos que possam arriscar seu império pop bilionário.

A audácia de Donald Trump, reclamando apoio da estrela que o detesta, expõe uma vulnerabilidade. O poder de Taylor Swift vem das massas de fãs que cresceram com ela reclamando de maus namorados, não de desconto de remédios para idosos. E há fãs trumpistas entre os que esperam 24 horas na fila para assistir aos seus shows.

No dia seguinte à entrada de Kamala Harris na campanha presidencial, um grupo de Swifties —o ecossistema de fãs da artista— lançou, sem pedir licença à deusa inspiradora, uma campanha de apoio à política democrata que rapidamente atraiu 60 mil seguidores.

Nenhuma democracia moderna alistou tantas celebridades em campanhas políticas como os Estados Unidos, um protagonismo em exibição nesta semana, em Chicago, na convenção democrata. Mas a emergência do escatológico Trump afugentou famosos conservadores, como Clint Eastwood, e empurrou um exército de atores, músicos, atletas e outras figuras públicas para o ninho democrata.

A questão é, num país tão dividido entre eleitores que apoiam a democracia e os dispostos a desmontá-la para seguir Donald Trump até o precipício, qual o peso da fama em decidir o voto?

A Universidade Harvard publicou, neste mês, um estudo sobre o peso do engajamento de celebridades no processo democrático. O estudo sugere que pessoas famosas, com quem membros do público —especialmente jovens— se identificam, têm influência real e contribuem melhor quando incentivam a participação política, como obter registro de eleitor e se informar sobre o que está em jogo numa eleição.

Em 2020, Taylor Swift, que tinha 140 milhões de seguidores no Instagram, combinou o apoio à campanha democrata com apelos aos jovens americanos para votar, neste país onde o voto não é obrigatório. Donald Trump, incapaz de censurar o que pensa, tem deixado claro, em comícios, que prefere eleitores apáticos.

Se a diva pop levar qualquer jovem em idade de votar para as urnas, dificilmente será para eleger o republicano.


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Fonte: Folha de São Paulo

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