Várias pequenas manifestações pró-Palestina têm pipocado na convenção democrata, em paralelo às marchas de rua que acontecem fora do evento, irritando o comando do partido e seus aliados, que tentam usar o evento para projetar uma imagem de união.
Protestos ocorreram durante o discurso de Joe Biden na noite de segunda-feira (19), quando um grupo de delegados se virou de costas para o presidente, contra a ex-presidente da Câmara Nancy Pelosi e, nesta terça (20), a Folha acompanhou outro ato durante uma reunião da bancada de mulheres do partido.
O grupo Code Pink (código rosa) aproveitou uma aparição surpresa do candidato a vice Tim Walz no encontro para fazer um pequeno protesto. Ao menos três pessoas começaram a gritar e estenderam uma bandeira com a frase “Kamala, sem mais armas para Israel” enquanto ele falava.
Medea Benjamin, cofundadora do grupo, foi retirada à força por seguranças, após resistir ao se agarrar a uma barra de ferro de uma escada que dá acesso à área de imprensa. Ela gritava frases como “mulheres também estão sendo mortas em Gaza”.
Em resposta, o restante do público entoou gritos de “USA” (EUA, na sigla em inglês) para abafar os manifestantes.
“Eu não sou delegada, sou uma pessoa muito preocupada com o que o Partido Democrata está fazendo porque esse governo está enviando armas [para Israel] todos os dias. Isso não é humano, esses não são os nossos valores. A maioria dos democratas quer ver o fim do armamento de Israel [pelos EUA]. Isso é errado”, disse Benjamin à Folha após ser retirada da reunião.
O grupo seguiu o protesto no corredor em frente ao salão, irritando outros participantes da convenção. Um homem acusou os manifestantes de ajudar os republicanos, enquanto outro disse a repórteres que eles estavam dando muita atenção para o protesto. Uma mulher caminhou em frente ao grupo e começou a fazer poses para as câmeras de jornalistas, zombando dos ativistas.
Dos quase 5.000 delegados que participam da convenção, representantes de todos os estados e territórios americanos, há 30 que representam oficialmente os votos “sem compromisso, uma espécie de voto em branco —opção marcada por eleitores das primárias democratas em protesto contra Biden. Outros simpáticos à causa, no entanto, somam-se a eles se autointitulando “delegados do cessar-fogo”.
Um deles é Solono Sisco, 32, de Seattle (Washington). Oficialmente, ele é um delegado vinculado a Biden, mas na prática integra o grupo que se manifesta contra o presidente. “Acho que há muito potencial em Kamala. Biden se orgulha de dizer que é sionista, um aliado histórico de Israel. Kamala tem sido mais flexível”, afirma ele à Folha.
Apesar de ter uma visão mais positiva sobre a vice-presidente, ele ressalta que é preciso que ela tome passos concretos: especificamente, um embargo de venda de armas para Israel.
Segundo ele, um abaixo-assinado por um cessar-fogo reuniu até agora a assinatura de 210 delegados da convenção, uma pequena fração do total presente em Chicago. A deputada Alexandria Ocasio-Cortez, contudo, foi bastante aplaudida durante seu discurso na noite de segunda ao defender um cessar-fogo e o retorno dos reféns para casa.
Outras manifestações são esperadas até quinta-feira (22). Nesta terça, por exemplo, está na programação da convenção uma votação simbólica, em que a delegação de cada estado poderá declarar seu apoio a Kamala –uma oportunidade para novos protestos.
O tema também pode ser levantado por Bernie Sanders que, como AOC, tem sido um dos congressistas mais críticos ao apoio dos EUA a Israel. O senador independente discursa na noite desta terça.