O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, descartou nesta sexta-feira (9) qualquer negociação com a líder opositora María Corina Machado depois de comparecer à corte suprema do país, à qual pediu uma certificação dos resultados contestados da eleição presidencial do dia 28.
“O único que tem que negociar neste país com [María Corina] Machado é o procurador-geral. Que ela se entregue à Justiça, encare os fatos e responda pelos crimes que cometeu. De verdade, essa é a única negociação que cabe aqui”, disse Maduro, que chamou a opositora de “foragida da Justiça”.
María Corina diz temer ser presa depois que a repressão no país às manifestações contra a proclamação da vitória de Maduro aumentou —até agora, e apesar de forte pressão de países como Brasil, México, Colômbia e Estados Unidos, o CNE (Conselho Nacional Eleitoral) da Venezuela ainda não apresentou as atas eleitorais que comprovariam esse resultado.
A oposição, por outro lado, publicou em um site na internet o que diz serem as atas às quais teve acesso, declarando vitória do ex-diplomata Edmundo González com 67% das intenções de voto. Organizações internacionais consideram que esses documentos muito provavelmente são verídicos, e uma série de análises independentes feita com base neles constatou a derrota de Maduro e a vitória de González.
Na quarta-feira (7), o Ministério Público do país, controlado pelo chavismo, anunciou a abertura de um inquérito contra os responsáveis pelo site onde foram publicadas as atas da oposição. O procurador-geral citou crimes como usurpação de função pública e formação de quadrilha e disse, sem apresentar provas, que os documentos são falsos.
Maduro compareceu ao TSJ (Tribunal Supremo de Justiça) da Venezuela nesta sexta após a corte emitir uma convocação dos candidatos à presidente —González anunciou na quarta que não iria e rejeitou todo o procedimento.
Em carta publicada em suas redes sociais, o candidato opositor questionou a legalidade do processo, que além disso foi aberto por Maduro. “Este é um procedimento imparcial que respeita o devido processo? Estou sendo condenado antecipadamente?”, questiona no comunicado reproduzido na plataforma X.
“O que o Tribunal Supremo de Justiça da Venezuela decidir será lei da República, será uma sentença sagrada”, disse Maduro à imprensa ao sair da audiência.
Em entrevista à AFP nesta sexta, María Corina disse que a oposição propõe uma “negociação para a transição democrática” que “inclui garantias, salvo-condutos e incentivos para as partes envolvidas, neste caso, o regime que foi derrotado nesta eleição presidencial”.
“Estamos decididos a avançar em uma negociação”, insistiu. “Será um processo de transição complexo, delicado, no qual vamos unir toda a nação.”
A decisão de Maduro de envolver o TSJ na disputa sem nem sequer apresentar as atas eleitorais que o CNE diz ter entregado à corte foi criticada por Brasil, México e Colômbia, cujos governos vêm atuando em conjunto para negociar uma saída pacífica para a crise na Venezuela. Os países latino-americanos seguem pedindo a publicação dos documentos pelo CNE.
Os EUA, por sua vez, afirmaram na sexta que “apenas através do diálogo, e não da repressão, poderá a Venezuela voltar à normalidade democrática”.
O presidente do CNE, Elvis Amoroso, compareceu na segunda-feira ao tribunal e disse que entregou todo o material solicitado: atas de apuração das mesas eleitorais, a ata da totalização definitiva e uma cópia da proclamação de Maduro.
A presidente do TSJ, Caryslia Rodríguez, informou que o material será revisado em um prazo de 15 dias, período que pode ser “prorrogável”.