O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deixou o Chile, nesta terça-feira (6), sem falar sobre Venezuela, mesmo diante do agravamento da crise no país vizinho.
Na véspera, o opositor Edmundo González havia se autoproclamado presidente eleito no mesmo momento em que Lula estava no Palácio de La Moneda, em Santiago, com seu homólogo chileno, Gabriel Boric. Os dois líderes evitaram o tema com a promessa de falar sobre o assunto no dia seguinte.
Boric e Lula têm adotado posturas distintas diante da crise venezuelana. No dia seguinte ao anúncio oficial de que Maduro teria ganhado as eleições, o chileno disse que os resultados eram difíceis de acreditar. Já o governo brasileiro tem buscado uma solução diplomática com outros países governados pela esquerda.
Lula chegou no domingo à noite (4) em Santiago e a expectativa era de que ele falasse com jornalistas nesta terça sobre o tema. Mas ele encerrou sua última agenda, uma cerimônia no Centro Espacial Nacional do Chile, e seguiu direto para o aeroporto.
De acordo com integrantes do governo Lula, o presidente atendeu a um pedido da gestão Boric de não abordar o tema em Santiago, para evitar contaminar a visita. Auxiliares, então, renovaram a promessa, alegando que Lula falaria sobre o assunto no Brasil.
Ele retorna nesta tarde, mas vai para São Paulo e só no dia seguinte voltará para Brasília.
Caso aconteça, será a segunda fala do presidente sobre a controversa reeleição do ditador Nicolás Maduro. Na semana passada, o petista disse não ver “nada de grave, anormal” na disputa marcada pela falta de transparência.
Sua fala repercutiu mal em um tema que já traz desgaste interno ao governo. Integrantes do Planalto buscaram corrigir a rota e destacar a postura diplomática que o Itamaraty tem adotado, além dos esforços por uma solução pacífica com Colômbia e México.
Na segunda-feira (5), o candidato da coalizão opositora na Venezuela, Edmundo González divulgou uma carta em que se proclama presidente eleito. Ele afirma que venceu nas urnas, a despeito do anúncio oficial do CNE (Conselho Nacional Eleitoral), e é amparado por contagens independentes.
Lula e Boric estavam juntos quando González publicou a carta nas redes sociais. Mas, desde a declaração conjunta à imprensa, evitaram abordar o tema à altura da crise —Boric disse que só falaria de Brasil e Chile, e que outros assuntos ficariam para outro momento.
Lula, por sua vez, disse, ao lado de Boric, que ser diferente é extraordinário.
“Cada país tem a sua cultura, cada país tem seus interesses, suas nuances políticas. A gente não pode querer que todo mundo fale a mesma coisa, pense a mesma coisa, nós não somos iguais. Nós somos diferentes e isso é extraordinário porque a diferença permite que a gente procure encontrar nossas similaridades, as coisas que nos ajudam”, disse Lula, sem mencionar diretamente a crise na Venezuela.
Trata-se de uma menção velada à crise no país vizinho, que só foi mencionado no discurso oficial de Lula uma vez. Ele disse ter mencionado a Boric a iniciativa de Brasil, Colômbia e México para uma solução diplomática sobre a questão.
Naquele mesmo dia, antes de chegar ao La Moneda, Lula recebeu um telefonema do presidente da França, Emmanuel Macron. Segundo a Presidência, Macron elogiou a iniciativa dos três países.
Um dia antes de deixar o Chile, o presidente jantou na Embaixada do Brasil em Santiago com Boric, o chanceler Mauro Vieira, o assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, Celso Amorim, e as ministras Luciana Santos (Ciência e Tecnologia), Esther Dweck (Gestão e Inovação) e Nísia Trindade (Saúde).