A Guatemala elegeu neste domingo (20) o centro-esquerdista Bernardo Arévalo, 64, à Presidência do país. Candidato pelo partido Movimento Semilla, ele já havia surpreendido ao conseguir uma vaga para o segundo turno embora pesquisas de intenção de voto não o colocassem entre os favoritos.
Arévalo derrotou Sandra Torres, da UNE (Unidade Nacional da Esperança), ex-primeira dama do país, que perde agora sua terceira tentativa de chegar à chefia do Executivo guatemalteco. Inicialmente próxima da social-democracia, ela pendeu ao longo de sua trajetória política para o conservadorismo.
Com 95% das urnas apuradas, o Tribunal Supremo Eleitoral divulgou Arévalo com 59% dos votos, e Torres, com 36%. “Já temos uma tendência sumamente importante”, disse a presidente do órgão, Irma Palencia.
“Felicito os guatemaltecos pela realização das eleições em paz, com poucos incidentes isolados. Felicito também Bernardo Arévalo e o convido para iniciar a transição ordenada no dia seguinte à oficialização dos resultados”, escreveu em rede social o atual presidente da Guatemala, Alejandro Giammatei.
O eleito é filho de Juan José Arévalo, primeiro líder escolhido em um pleito transparente no país, em 1944. A eleição de Juan José iniciou o período conhecido como “primavera democrática”, que acabou em 1954, após um golpe apoiado pela multinacional americana United Fruit, que derrubou Jacobo Arbenz Guzmán.
Milhões de guatemaltecos foram às urnas neste domingo (20) após um primeiro turno marcado pela suspensão judicial de quatro candidatos. Na primeira rodada, no fim de junho, o país viu Arévalo deixar de ser um nanico para avançar à segunda volta como favorito. Ao resultado se seguiram investidas contra o Semilla —menos de uma semana depois, a Suprema Corte acatou pedido que suspendeu os resultados.
Esse e outros processos foram revertidos, mas o Tribunal Supremo Eleitoral da Guatemala ainda é investigado pelo Ministério Público do país em pelo menos 13 casos, segundo Palencia, chefe da corte.
A gestão do atual presidente, o direitista e impopular Giammattei, deu sequência ao clima de perseguição a opositores. Em maio, um dos mais importantes jornais da Guatemala, elPeriódico, foi fechado, e seu presidente, José Rubén Zamora, preso, depois que a publicação investigou denúncias de corrupção no governo. Estima-se que há mais de 30 juristas e 20 jornalistas em autoexílio, além de ativistas.
O cenário também remonta ao fim da Cicig (Comissão Internacional Contra a Impunidade na Guatemala), órgão apoiado pela ONU e dissolvido em 2019 após revelar casos de corrupção envolvendo figurões locais. Desde então, promotores e juízes que atuaram na comissão foram presos ou se exilaram.
A Guatemala tem o quinto pior índice de percepção da corrupção da América Latina, segundo a ONG Transparência Internacional. “Pacto dos corruptos” é um termo usado frequentemente para descrever o modus operandi dos elos políticos que envolveriam oligarquias, militares, empresários e narcotraficantes.
No primeiro turno, o partido de Arévalo conquistou também 16 assentos e se transformou na terceira força do Legislativo. Os desafios do novo presidente, porém, serão maiores do que sua adversária esperava.
Até o segundo turno, o Movimento Semilla havia se aliado apenas a pequenos partidos de esquerda, apesar de ter feito acenos a representantes da classe industrial do país. Já Torres, ex-primeira dama que andou da social-democracia para o conservadorismo desde que iniciou sua trajetória política, teria, em tese, mais facilidade para governar. Embora seu partido, a UNE, tenha perdido 24 cadeiras no Congresso nas eleições, Torres provavelmente faria acordos com o atual partido majoritário, o Vamos, de Giammattei.