Uma María Corina Machado frenética em cima de um caminhão ao lado de um Edmundo González em boa parte do tempo sentado tomaram algumas das ruas de Caracas enquanto do outro lado da cidade o ditador Nicolás Maduro tentava cativar sua base com alguns passos de dança.
No último dia de campanha política antes das eleições presidenciais do fim de semana e no mesmo dia do aniversário da capital venezuelana, a cidade foi inundada por caravanas dos dois polos políticos.
O ato da oposição começou com o som do jingle “todo el mundo con Edmundo”, mas foi logo substituído pelo barulho incessante das centenas de motos que aglutinavam seus apoiadores e gritos de apoio.
Com suas tradicionais cruzes no pescoço —María Corina é católica— a líder de fato da oposição acenava e mandava beijos aos transeuntes que paravam para acenar. A caminho da Plaza Bolívar, em uma zona de classe média e alta da capital, moradores e funcionários dos restaurantes e hotéis saíram às ruas para manifestar seu apoio.
“O povo não deve temer os governos, o povo deve temer o próprio povo”, dizia um dos cartazes contra a ditadura. “Sí, se puede”, gritavam os apoiadores.
Havia, claro, dissidência. Mas microscópica. Da janela de seus apartamentos alguns poucos moradores faziam sinais com as mãos pedindo que fossem embora e balançando cartazes com o rosto de Maduro.
Na Avenida Bolívar, no centro da capital, porém, as ruas foram tomadas por apoiadores do chavismo, com centenas de bandeiras da Venezuela e de partidos da aliança eleitoral da ditadura.
Maduro subiu ao palco por volta das 18h (19h de Brasília) em um ato que começou com clima de showmício: dançou ao lado de artistas que cantavam músicas políticas que relembravam Hugo Chávez, morto em 2013 —lembrança que o próprio ditador retomou logo no começo do discurso, mudando o tom do evento de animado para grave e solene.
“Tudo que fizemos, fizemos por você, Comandante Chávez”, disse Maduro. “Aqui está seu povo, que nunca vai falhar. O povo está na rua, e ninguém pode com ele!”, prosseguiu, dizendo que, sob seu comando, a Venezuela venceu “a pior agressão que sofreu em toda sua história”, se referindo às sanções dos Estados Unidos. “Uma agressão que tem objetivo de acabar com uma sociedade. E o povo gritou de sua alma: aqui ninguém vai se render!”
Em seguida, fez ataques à oposição, chamando González de fantoche da extrema-direita. “Quem pediu as sanções criminosas contra a Venezuela? Quem pediu que a Venezuela fosse invadida pelo Exército gringo? Vocês querem que a violência e os dias sombrios retornem?”, perguntou o ditador. “Querem que chegue à presidência da República um presidente da extrema-direita radical fascista? Querem que chegue uma marionete da extrema-direita radical?”
Também repetiu a ideia que já havia levantado em outros comícios de que pode haver violência caso não seja vitorioso. “Só um presidente chavista é capaz de garantir a paz. Só nós garantimos a paz e a estabilidade desse país chamado Venezuela. Só nós garantimos o crescimento econômico, superamos a crise de desabastecimento em frente à guerra econômica”.
“Esse rapazinho, o Nico, conhecia essa cidade de ponta a ponta. Minha escola e minha universidade foram as ruas de Caracas, as fábricas de Caracas”, destacou o ditador, reforçando a ideia que sua campanha tenta vender para se aproximar dos jovens.
Além do debate político, uma outra preocupação pipocada entre alguns. “Até quando podemos comprar nossa cerveja e nosso rum para comemorar?”. A lei seca pelas eleições começa no país nesta sexta (26).