Dois dias depois da chegada dos primeiros bombardeiros estratégicos americanos a operar na Romênia, a Rússia promoveu um grande ataque com drones a um porto ucraniano a pouco mais de 100 km da base na qual os dois B-52 de Washington foram posicionados.
A ação ocorreu por volta das 2h desta quarta (24, 20h de terça em Brasília) e obrigou a Força Aérea romena a acionar dois caças F-16 para proteger seu espaço aéreo. No ano passado, destroços de drones russos caíram no país, integrante da Otan, gerando protestos do seu governo.
O ataque mirou Izmail, um dos principais portos do rio Danúbio. Foram lançados da Crimeia 23 drones, dos quais 17 acabaram abatidos, segundo o governo local. Mas houve bastante destruição em solo, tanto na infraestrutura do terminal quanto em edifícios residenciais. Ao menos três pessoas ficaram feridas.
Izmail fica na margem oposta do Danúbio à cidade romena de Plaura e a 110 km da base aérea de Mihail Kogalniceanu, que está passando por obras que a tornarão a maior operada pela aliança militar ocidental na Europa em 2030.
Foi lá que os dois gigantescos bombardeiros B-52 pousaram domingo para uma rotação de talvez dois meses na região do mar Negro. É a primeira vez que da chamada Força-Tarefa de Bombardeiros dos EUA, criada em 2018, fica baseada na Romênia.
É uma sinalização à crescente tensão entre Rússia e EUA em torno do conflito ucraniano, com ameaças nucleares de Vladimir Putin sendo respondidas pelo governo de Joe Biden. Até aqui, a tática americana era a de desconsiderar as sugestões russas de uso de armas atômicas táticas, de impacto supostamente reduzido, como blefe.
Mas a maré mudou, e os EUA anunciaram que vão instalar mísseis convencionais ofensivos na Alemanha em 2026, algo que era proibido por um tratado do fim da Guerra Fria que foi abandonado por Donald Trump em 2018.
Já Putin congelou a participação russa no Novo Start, o principal acordo de limitação de armas estratégicas, aquelas feitas para ganhar guerras —e destruir o mundo no processo. E ameaça responder às armas americanas em solo alemão com mísseis nucleares em Kaliningrado.
Os B-52 estacionados na Romênia não carregam armas nucleares, e integram a parte da frota que foi desabilitada a fazê-lo. Mas sua operação é a mesma dos modelos que podem disparar mísseis de cruzeiro com cargas atômicas, logo o que interessa é mostrar a capacidade de empregá-los naquele teatro.
Isso leva.a riscos adicionais. O mar Negro já tem um grande histórico de esbarrões entre aviões da Rússia e da Otan: um caça de Moscou disparou em 2022 um míssil ao lado de uma aeronave espiã britânica, e no ano passado um drone americano caiu após ser atingido por um aparelho russo.
Nas próximas semanas, a isso serão acrescidas missões do B-52, que simulam ataques e prontidão para agir. No caminho para a Romênia, os bombardeiros já cumpriram outra missão inédita, a de sobrevoar a Finlândia, que entrou na Otan no ano passado. De lá, testaram a rapidez de reação junto ao espaço aéreo russo, forçando a interceptação por dois caças.
Izmail não sofria um ataque desses desde setembro do ano passado, após uma campanha russa de bombardeios após o colapso do acordo que permitia a exportação de grãos ucranianos pelo mar Negro.
Além da questão simbólica, há a prática: o porto é um importante canal de escoamento de grãos e entrada de combustível na Ucrânia, e os russos têm atacado de forma coordenada toda a estrutura energética do país —que já opera com menos da metade da capacidade de distribuição de eletricidade.