Os discursos que antecederam o de Donald Trump no último dia da convenção republicana, nesta quinta-feira (18), foram dando o tom da noite, com frequência se referindo à sobrevivência ao atentado do último sábado (13) como um milagre divino. De todos os temas tratados, questões morais despertaram uma reação muito mais efusiva da plateia do que temas econômicos.
Um dos nomes que mais fez a plateia vibrar foi o pastor Lorenzo Sewell, de Detroit (Michigan). “Você não pode negar que Deus o protegeu. Que foi um milagre de um milímetro que salvou sua vida. Será que Jesus Cristo o salvou para uma hora como essa?”, disse, e logo foi interrompido por aplausos. “Será que Deus todo poderoso protegeu? Levante suas mãos se você acha que sim”, comandou, levando o público à loucura.
Em seguida, os telões do Fiserv Fórum reproduziram um vídeo em que Trump dança a música YMCA –uma montagem de várias cenas em que o empresário mexe os braços.
Assim, montou-se o clima para a entrada de Trump no ginásio. O empresário chegou pouco antes das 19h (hora local), cumprimentou apoiadores e sentou-se em uma espécie de camarote para assistir o restante dos discursos. Ele foi o último a falar com a plateia.
Ainda no “período esquenta” da convenção, coube a uma voluntária da campanha chamada Diane Evans, da Palm Beach (Flórida), creditada no programa da convenção como “uma americana comum”, fazer os ataques mais agressivos a Biden. “Nunca estive em um palco, nunca li de um teleprompter, mas se Biden consegue, achei que conseguiria”.
Em uma referência velada às acusações sem provas feitas por Trump de que a eleição de 2020 foi fraudada, ela disse que começou a se envolver com política após este pleito. “Eu ajudava em coisas pequenas, como tirar o lixo, e agora estou ajudando a tirar o lixo do número 1.600 da avenida Pensilvânia” –o endereço da Casa Branca.
“Os democratas vão fazer tudo sob seu poder para parar Trump. Não podemos descansar um minuto”, disse. “Diga a 20 para votar, e para elas dizerem a outras 20. Ele ou ela não podem fraudar uma vitória de lavada [de Trump]”, completou, em referência a Biden e a Kamala Harris, caso a vice substitua o presidente como a candidata democrata.
Na agenda de costumes, o deputado Richard Hudson, que coordena a estratégia do partido para manter o controle da Câmara, despertou um coro de vaias –não a ele, mas aos democratas– quando disse que os adversários “querem meninos em esportes de meninas, querem colocar homens no vestiário das minhas filhas”.
Os comentários fazem referência a uma das principais bandeiras de conservadores, que se opõem ao reconhecimento de direitos a pessoas transgênero sendo adotada em diversos estados governados por democratas.
Também foi ilustrativo que, de toda a lista de prioridades apresentada pelo senador Steve Daines para a Casa, caso seja retomada pelos republicanos, a mais aplaudida tenha sido terminar a construção do muro com o México –mais do que cortes de impostos, prover recursos para a polícia e fortalecer as Forças Armadas, por exemplo.
“Não queremos que o que aconteceu em 2020 nunca mais aconteça novamente”, disse Trump em um vídeo pré-gravado reproduzido no telão durante o intervalo entre um discurso e outro. “Essas pessoas querem trapacear, elas trapaceiam, e honestamente é a única coisa que fazem bem”, afirmou, em referência aos democratas.
O empresário foi descrito como um avô amoroso, um excelente jogador de golfe, um amigo fiel. O retrato pintado é de um homem generoso cuja imagem é distorcida pela imprensa e por adversários, e que se dedica ao seu país de modo altruísta.