A política tem horror ao vazio. É preciso que um fato (o atentado) seja seguido por outro maior: trocar Biden por Kamala. Seria importante que esta segunda-feira (15) trouxesse uma boa notícia ao mundo.
Os disparos da Pensilvânia, tal como a facada de Juiz de Fora, sublinham a crescente fragilidade das democracias modernas. O que agora aconteceu com Donald Trump (e antes com Jair Bolsonaro) são um reflexo inquietante da fraqueza das democracias frente à polarização e à violência. Esses acontecimentos não só ameaçam a segurança dos líderes políticos, mas também minam a confiança pública nas instituições democráticas.
Não é apenas a integridade física dos políticos que está em questão. É todo o edifício da sociedade que ameaça ficar em ruínas. Quando os cidadãos percebem que seus líderes não estão seguros —ninguém mais está seguro!— é a fé no próprio sistema democrático que é abalada.
Para estancar essa ferida, torna-se imperativo que as lideranças políticas tomem medidas drásticas para restaurar a confiança e a estabilidade. A substituição imediata de Joe Biden por Kamala Harris poderia ser uma resposta poderosa e simbólica, demonstrando um rompimento com o establishment e uma disposição para enfrentar a crise de frente.
Um fato de tamanha magnitude, como o atentado ao truculento ex-presidente e atual candidato, não pode ser combatido com mais do mesmo. O episódio exige uma ação forte e disruptiva que mostre a resiliência e a adaptabilidade da democracia aos complexos tempos que vivemos.
Propor a substituição de Biden por Harris como candidata democrata à Casa Branca não seria apenas uma medida emergencial ou uma resposta política para mudar o rumo dos acontecimentos na corrida presidencial. Seria também um sinal de transformação geracional.
Kamala Harris, como primeira mulher e primeira pessoa de ascendência africana e asiática a ocupar a vice-presidência, já representa uma ruptura significativa com o passado. Mas a sua nomeação como candidata a presidente, em substituição de Biden e em resposta ao atentado, poderia ser transformadora. Um verdadeiro “game changer”, como se diz em inglês, capaz mesmo de mudar o sentido das pesquisas eleitorais que hoje sistematicamente apontam Trump à frente.
A violência e a radicalização, consequências da lógica maniqueísta em que a política globalizada hoje se articula, são receita certa para minar democracias. Por isso é necessário transformar essa crise em uma oportunidade, reformando e fortalecendo as instituições, assegurando que a democracia não apenas sobreviva, mas se torne mais robusta.
A substituição de Biden por Harris pode ser o passo audacioso necessário para restaurar a confiança e assegurar um futuro mais seguro e democrático. Para os Estados Unidos e para todo o mundo ocidental.
Se a opinião, quase unânime, de todos os comentadores e intelectuais foi de que o atentado de sábado levaria à imediata vitória de Trump, não se pode esperar mais para substituir Biden. Se não for agora, quando será?