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Eleição na França: Por que mais mulheres apoiam direita – 07/07/2024 – Mundo

Durante muito tempo reticentes em votar na direita radical, as mulheres francesas estão cada vez mais entre os eleitores da Reunião Nacional (RN), de Marine Le Pen. A cada votação, o partido tende a ganhar mais presença nesse eleitorado.

Apenas nos últimos cinco anos, a parcela da população feminina que vota na RN ganhou dez pontos percentuais, passando de 20% a 30%, de acordo com diferentes pesquisas.

As mulheres já votam praticamente tanto quanto os homens na ultradireita. E nas eleições legislativas deste domingo (7) não deve ser diferente. No primeiro turno, em 30 de junho, 32% das francesas votaram na Reunião Nacional.

No caso eleitorado masculino foram 36%, segundo a pesquisa Ipsos-Talan para France.tv e Public Sénat. Na votação para o Parlamento Europeu, no último dia 9, as mulheres optaram mais pelo RN (32%) do que os homens (31%), segundo um levantamento do instituto Ifop.

A operação de atração da população feminina começou em 2011, quando Marine Le Pen assumiu as rédeas do partido fundado no início dos anos 1970 por seu pai, Jean-Marie Le Pen.

Os discursos violentos e polêmicos dele —que resultaram em várias condenações na Justiça, inclusive por apologias a crimes de guerra— e suas declarações sexistas espantavam grande parte das mulheres. Nas eleições presidenciais de 2002, por exemplo, ele só obteve votos de 11% desse público.

Uma das razões que explicam a progressão da RN Nacional no eleitorado feminino, afirmam especialistas, é que Marine Le Pen utilizou de maneira estratégica seu gênero para se dirigir diretamente às mulheres, se distanciando da herança sexista e machista de seu pai.

“Ela utiliza o argumento de dizer que é uma mulher como as outras, que é moderna, trabalha, batalha na vida, é divorciada e com filhos”, disse à BBC News Brasil a socióloga Janine Mossuz-Lavau, diretora de pesquisas no Centro de Pesquisas Políticas da universidade Sciences Po de Paris.

Outro fator, importante, é que Marine Le Pen focou seu discurso econômico nas classes desfavorecidas, com propostas para a melhoria do poder aquisitivo da população.

“As mulheres, de maneira mais frequente, estão em situação de precariedade. Elas têm salários mais baixos e empregos menos qualificados. Isso também leva a votar na direita radical”, afirma Mossuz-Lavau.

São geralmente as mulheres que fazem as compras da casa e administram o orçamento familiar. Entre as medidas propostas regularmente pela RN em eleições estão a redução das tributações sobre energia e combustíveis e sobre produtos de primeira necessidade.

As mulheres, afirmam especialistas, também têm mais preocupações em relação à segurança pública, outro tema forte do partido de Le Pen, que mistura em seus discursos problemas de falta de segurança e imigração.

O discurso mais moderado de Le Pen, que faz parte da estratégia de “desdiabolização” da RN, acabou ampliando o eleitorado que vota na direita radical, antes mais concentrado nas camadas mais populares de operários, desempregados e pessoas com baixa qualificação.

Jordan Bardella, de apenas 28 anos, assumiu a presidência do partido nacionalista em 2021. Orientado por Marine, ele também focou nas mulheres, sobretudo nas redes sociais. Ele lançou um apelo ao eleitorado feminino para votar no partido nestas eleições legislativas.

“Há o efeito Marine Le Pen, mas também há o efeito Bardella. Todo arrumadinho, engomadinho, ele parece o genro ideal. Ele agrada não só as filhas, mas também as mães”, afirma a socióloga.

Diferença entre discurso e prática

A direita radical de Le Pen faz declarações sobre os direitos das mulheres, que o partido promete proteger, mas organizações feministas dizem que o discurso é um “feminismo de fachada”.

Em um artigo no jornal Le Monde, a filósofa Camille Froidevaux-Metterie afirma que “para as mulheres, votar RN é como apontar uma arma para si mesma”. Deputados do partido se abstiveram de votar uma lei na França em 2018 contra violências sexistas e sexuais.

Le Pen se opôs à ampliação do prazo legal para a realização de abortos, totalmente autorizado na França, e também foi contra a reprodução assistida para todas as mulheres, o que inclui casais lésbicos. Deputados europeus do partido também votaram em massa contra uma condenação da Polônia após restrições do direito ao aborto.

Jovens

A direita radical de Le Pen também amplia seu eleitorado entre os jovens, que tradicionalmente tendem em votar em partidos de esquerda.

No primeiro turno das legislativas francesas, no domingo passado, 33% dos eleitores na faixa de 18 a 24 anos votaram na RN, segundo o instituto Ipsos. Nesta mesma faixa etária, 9% votaram na sigla de Macron e 48% na aliança dos principais partidos de esquerda, a Nova Frente Popular (NFP).

Outra pesquisa, do instituto Ifop, aponta que 25% da faixa etária de 18 a 24 anos votaram na RN no domingo do primeiro turno.

“Também há muitos jovens em situação precária, com baixos salários ou desempregados, mesmo diplomados. Há um ressentimento que a RN sabe explorar”, afirma a socióloga Massuz-Lavau.

É uma geração que não conheceu Jean-Marie Le Pen à frente do partido, que na época se chamava Frente Nacional. Além disso, Bardella, o presidente da sigla, é o novo rosto da RN. Ele é jovem e se tornou um fenômeno no TikTok.

Ele soube utilizar bem as redes sociais para atrair eleitores, mostrando-se em diferentes situações do dia a dia e concentrando a imagem do partido nele.

Isso é uma tática crucial para que o eleitorado, principalmente jovem, não se lembre que certos membros do partido continuam criando polêmicas por comentários racistas e antissemitas.

Uma candidata do RN teve que desistir do segundo turno das legislativas após uma foto antiga sua usando um chapéu nazista ter viralizado. Nesses casos, Marine Le Pen intervém rapidamente para evitar que seus esforços para melhorar a imagem do partido sejam afetados.

Essas eleições legislativas estão mobilizando mais o eleitorado. A taxa de comparecimento às urnas no domingo passado, de cerca de 66%, foi a maior em 40 anos. Estima-se que neste domingo ela também será alta. E os jovens também votaram mais, com uma participação de 56%.

Fonte: Folha de São Paulo

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