Os partidos na França estão envolvidos em intensas negociações para formar um governo, depois que os franceses elegeram, na semana passada, o Parlamento mais fragmentado da história do país no pós-guerra.
O presidente Emmanuel Macron pediu um amplo “pacto governante” que excluísse os radicais da Reunião Nacional (RN), à direita, e da França Insubmissa (LFI) à esquerda.
O bloco Nova Frente Popular (NFP), que inclui a LFI, até agora resistiu às tentativas dos centristas de Macron de atrair seus membros mais moderados. A NFP alega ter direito ao cargo de primeiro-ministro depois de ter ficado em primeiro lugar na votação do último domingo (7), com 180 assentos na Assembleia Nacional de 577 membros.
Até a tarde desta sexta-feira (12), os partidos da NFP ainda estavam discutindo sobre seu candidato a primeiro-ministro.
A aliança centrista Juntos, de Macron, também está dividida sobre qual estratégia seguir, com alguns defendendo um acordo com políticos conservadores.
O presidente francês designa o primeiro-ministro, mas a Constituição não especifica como, nem estabelece um cronograma.
Veja abaixo alguns candidatos para o cargo de primeiro-ministro na França.
Olivier Faure, NFP (Partido Socialista)
Calmo e discreto, o líder do Partido Socialista, de centro-esquerda, Olivier Faure é fácil de subestimar. Mas o homem de 55 anos provou ser um hábil estrategista, conseguindo revitalizar sua legenda outrora moribunda —e triplicar o número de seus deputados em comparação com as eleições de 2022.
Faure ajudou a forjar a NFP pouco antes da eleição surpresa convocada por Macron no mês passado. Ele também foi um dos arquitetos da coalizão Nupes com a LFI e outros partidos de esquerda na legislatura anterior.
Faure seria uma escolha segura dada suas décadas de experiência na política local e nacional, e é mais moderado que outros na NFP. A aliança de esquerda insistiu que aplicará seu programa pesado de impostos e gastos e que revogará a reforma da Previdência de Macron, mas Faure pode se mostrar maleável como primeiro-ministro.
“Estou pronto para assumir esse papel”, disse Faure na terça-feira (9)
Marine Tondelier, NFP (Ecologistas)
Líder dos Ecologistas, Marine Tondelier, 37, é conhecida por frequentemente usar um casaco na cor de seu partido. Ela emergiu como uma figura-chave na NFP, atuando como uma ponte entre Faure e políticos da esquerda radical.
Ela começou sua carreira política na cidade de Hénin-Beaumont e se destacou com suas aparições incisivas na televisão e discursos apaixonados contra a ultradireita.
Mas ela tem pouca experiência no governo e não é considerada uma escolha certa para o cargo. A seu favor está o fato de que ela não vem dos dois maiores partidos da NFP, a LFI e o Partido Socialista, que frequentemente competem entre si.
Tondelier disse que há muitas pessoas na NFP que têm a “experiência e as habilidades” para o cargo. “Há mulheres que preenchem esses critérios”, disse, sinalizando sua abertura para o cargo.
Gérald Darmanin, Juntos
Ministro desde o início do primeiro mandato de Macron, em 2017, e responsável pelo Ministério do Interior, que inclui a polícia nos últimos quatro anos, Gérald Darmanin, 41, há muito almeja o cargo de primeiro-ministro.
Nascido de pais da classe trabalhadora com origens argelinas e maltesas, Darmanin começou com os conservadores Republicanos (LR) e é uma das principais figuras de direita no campo de Macron. Reeleito como deputado de um distrito do norte, ele é conhecido por sua postura relativa a questões de segurança. Ele enfrentou crises, incluindo os distúrbios do ano passado ocorridos após a polícia matar a tiros um jovem de 17 anos de origem norte-africana.
Darmanin defendeu abertamente que a aliança centrista de Macron se una ao LR e rejeitou a ideia de um governo de esquerda da NFP. Recentemente, ele disse que seria o “primeiro a assinar” uma moção de desconfiança em um governo que incluísse a LFI ou os Ecologistas.
François Bayrou, Juntos
Um dos primeiros aliados de Macron, François Bayrou, 73, defendeu um centrismo moderado ao longo de sua longa carreira política. Prefeito em cidade de sua região natal no sudoeste da França, lidera o partido Movimento Democrático (MoDem), que faz parte da aliança do presidente.
Um social-democrata clássico, Bayrou defendeu políticas dentro da “ala esquerda” do campo de Macron e buscou contrapor a mudança gradual do presidente para a direita em questões como segurança e cultura.
O MoDem de Bayrou reduziu de 48 para 33 cadeiras no Parlamento. Mas nos últimos dias ele correu para contra-atacar figuras da “ala direita” do campo de Macron, como Darmanin, que defendem se aliar ao LR para encontrar aliados.
Dada a ambiguidade do resultado eleitoral, Bayrou argumentou recentemente que seria um grave erro criar um governo que “servisse apenas uma metade do país contra a outra”.
Xavier Bertrand, Republicanos
Xavier Bertrand, 59, governa a região norte de Hauts-de-France e é ex-ministro da Saúde e do Trabalho sob Jacques Chirac e Nicolas Sarkozy. Ele se destaca no LR por advogar por um foco maior na classe trabalhadora com melhores serviços públicos e gastos sociais.
Bertrand saiu temporariamente do LR em 2017 quando um rival mais conservador, Laurent Wauquiez, tornou-se chefe do partido, e voltou em 2022 quando concorreu sem sucesso à Presidência.
Bertrand usou sua poderosa posição regional para criticar Macron —opondo-se ao impopular aumento da idade de aposentadoria— e tem sido um feroz oponente do ultradireitista RN, que é forte em sua região.
Mas Bertrand reconheceu que Macron o sondou para liderar o governo em 2017. Junto com outros líderes do LR, Bertrand reivindicou sem rodeios que alguém de seu partido lidere o governo. “Precisa ser liderado por alguém do LR para que haja mudança neste país”, disse na terça-feira.
Um tecnocrata misterioso
Macron jogou com o tempo esta semana mantendo o atual governo do primeiro-ministro Gabriel Attal no cargo enquanto as negociações acontecem.
Se nenhum governo puder ser formado, Attal poderia permanecer como interino por até um ano até que novas eleições sejam convocadas. No entanto, Attal deu a entender que deseja sair já na próxima semana para assumir seu assento como deputado e liderar o grupo parlamentar do partido Renascimento, de Macron.
Se o presidente estiver em um impasse, ele pode escolher um governo tecnocrático pelo tempo que puder sobreviver a um voto de desconfiança da Assembleia Nacional. Seria uma novidade na história da França moderna.
Um governo tecnocrático teria uma capacidade mais limitada de agir, então poucas reformas importantes podem ser esperadas nesse caso.