Os partidos de esquerda da França tiveram um crescimento inesperado nas eleições legislativas de domingo (7), negando ao partido de ultradireita Reunião Nacional (RN) uma maioria na Câmara baixa do Parlamento.
Mas os resultados oficiais mostraram que nenhum partido ou bloco havia garantido uma maioria absoluta, deixando um dos maiores países da Europa caminhando para um impasse ou instabilidade política.
Aqui estão as cinco principais conclusões da eleição francesa:
1. Grande Surpresa nº 1
Houve duas grandes surpresas quando a França votou para um novo Parlamento, nenhuma delas prevista por especialistas, pesquisadores de opinião ou analistas.
A maior foi o triunfo da Nova Frente Popular (NFP), uma coalizão de partidos de esquerda que agora é a força dominante em um bloco de cerca de 190 parlamentares e que emergiu como o principal grupo político da Assembleia Nacional.
Foi a vitória mais surpreendente da esquerda francesa desde que o socialista François Mitterrand a trouxe de volta de seu deserto do pós-guerra, em 1981.
O presidente Emmanuel Macron passou os últimos sete anos proclamando que a esquerda —e especialmente os socialistas— estavam mortos, e que suas franjas mais radicais, como a França Insubmissa, são agitadores perigosos. Ambos tiveram grandes vitórias no domingo.
Jean-Luc Mélenchon, fundador da França Insubmissa, afirmou que Macron agora tem o dever de nomear um primeiro-ministro da coalizão de esquerda. Ele disse que se recusaria a “entrar em negociações com o presidente”.
Em Paris, uma grande e animada multidão se reuniu para comemorar no bairro majoritariamente operário ao redor da Place de la Bataille-de-Stalingrad no domingo à noite.
2. Grande Surpresa Nº 2
A outra surpresa foi o terceiro lugar da Reunião Nacional e seus aliados —que eram apontados como favoritos para ganhar a maioria dos assentos, se não uma maioria absoluta. O partido já estava se preparando para governar ao lado de Macron em uma coabitação, quando o primeiro-ministro e o presidente estão em lados políticos opostos.
Ainda assim, a RN e seus aliados conquistaram 143 assentos —mais do que em qualquer momento de sua história, como o partido fez questão de ressaltar.
“A maré está subindo”, disse Marine Le Pen, líder de longa data do partido e candidata presidencial perene, aos repórteres no domingo. “Não subiu o suficiente desta vez, mas ainda está subindo. E, como resultado, nossa vitória, na realidade, está apenas adiada.”
Mas a mutação fundamental prevista antes de domingo —que a França se tornaria um país de ultradireita— não ocorreu. E assim, apesar de toda a fanfarronice de Le Pen, a festa da RN foi sombria.
3. A ‘Frente Republicana’ Pode Ter Funcionado
Ainda é cedo para dizer como os padrões de votação mudaram entre os dois turnos e como a Novo Frente Popular conseguiu sua vitória surpreendente. Mas as estratégias destinadas a impedir a ultradireita de vencer formando uma “frente republicana” parecem ter desempenhado um grande papel.
Os partidos de esquerda da França e a coalizão centrista de Macron retiraram mais de 200 candidatos de corridas de três vias em distritos onde a ultradireita tinha chances de conquistar um assento. Muitos eleitores que abominavam a RN então votaram em quem restou —mesmo que o candidato dificilmente fosse sua primeira escolha.
“Eu nunca teria votado na França Insubmissa em circunstâncias normais”, disse Hélène Leguillon, 43, após votar na cidade de Le Mans. “Somos forçados a fazer uma escolha que não teríamos feito de outra forma para bloquear a RN.”
A ultradireita argumentou que a tática era injusta e que privava seus eleitores de uma voz.”Privar milhões de franceses da possibilidade de verem suas ideias chegar ao poder nunca será um caminho viável para a França”, disse Jordan Bardella, presidente da RN, acusando Macron e a esquerda de fazerem “acordos eleitorais perigosos”.
4. A Participação Disparou
Os números oficiais para a participação no segundo turno não estavam imediatamente disponíveis no domingo à noite, mas a projeção é de que que seria cerca de 67%, muito mais do que em 2022, quando a França realizou as últimas eleições. Naquele ano, apenas cerca de 46% dos eleitores registrados foram às urnas para o segundo turno.
A participação no domingo é a mais alta desde 1997, refletindo um interesse intenso em uma corrida que tinha apostas muito mais altas do que o habitual.
5. O Que Vem A Seguir É Incerto
Com nenhum partido tendo uma maioria absoluta, e a Câmara baixa do Parlamento prestes a ser preenchida por facções que se detestam, não está claro exatamente como a França será governada, e por quem. Macron tem que nomear um primeiro-ministro capaz de formar um governo que os novos legisladores da Assembleia Nacional não derrubarão com um voto de desconfiança.
Ainda não há uma imagem clara de quem poderia ser, e nenhum dos três principais blocos —que também têm suas próprias discordâncias internas— parecem prontos para trabalhar uns com os outros.
De onde virá o próximo primeiro-ministro da França? Que influência legislativa Macron ainda tem? Ele pode continuar a presidir se a Câmara baixa for ingovernável?