Os países do G7 decidiram criticar a Venezuela por ter retirado seu convite à UE (União Europeia) para observar as eleições presidenciais de julho, diz um esboço da declaração final da cúpula do grupo, que deve ser divulgada nesta sexta-feira (14).
“Estamos profundamente preocupados (…) em relação aos direitos da oposição dentro do processo eleitoral e a decisão de retirar o convite para uma missão de observação eleitoral da UE”, afirma o texto.
O G7, que inclui Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido, vai pedir ainda que o regime de Nicolás Maduro garanta “eleições competitivas e inclusivas”, assim como o “fim do assédio aos membros da oposição e a libertação imediata de todos os presos políticos”. O grupo está reunido no sul da Itália para sua reunião anual.
Em maio, dois meses antes da data prevista para as eleições venezuelanas, a ditadura venezuelana cancelou o convite para que observadores da União Europeia monitorem o pleito. A decisão aconteceu após o bloco sancionar cerca de 50 integrantes do Conselho Nacional Eleitoral.
Na ocasião, o presidente do órgão, Elvis Amoroso, disse que os observadores europeus não eram “gente honrada para vir a este país enquanto mantém sanções”. “Seria imoral permitir sua participação, conhecendo suas práticas neocolonialistas e intervencionistas contra a Venezuela”, disse Amoroso. A UE sustenta medidas econômicas contra a Venezuela, incluindo sanções a membros do regime, desde 2017.
Maduro busca um terceiro mandato à frente do país nas eleições presidenciais deste ano, as primeiras desde 2018. Seu principal adversário é Edmundo González Urrutia, que foi designado pela principal aliança opositora para representar Maria Corina Machado, inabilitada de ocupar cargos públicos desde o ano passado.
Com o impedimento, Machado indicou a professora universitária Corina Yoris, 80, como nova candidata da oposição à Presidência —entretanto, a ditadura de Maduro também barrou o registro de Yoris como candidata, o que levou à indicação de González.
Os sucessivos bloqueios a candidatos competitivos motivaram os Estados Unidos a reimpor sanções contra a indústria petrolífera venezuelana que haviam sido suspensas no Acordo de Barbados, segundo o qual Caracas se comprometeria a realizar eleições livres e idôneas. A negociação entre o regime e a oposição, em outubro de 2023, determinava também que o pleito tivesse a presença de observadores internacionais.
A decisão de barrar Yoris provocou críticas até mesmo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que já chamou de “narrativa” a visão de que a Venezuela virou uma ditadura. Em março, ele mudou o tom ao afirmar que o impedimento de Yoris era grave e não tinha explicação jurídica.
A crítica do G7 acontece um dia depois de detentos de várias penitenciárias da Venezuela suspenderem uma greve de fome. O regime enviou agentes às prisões para atender às demandas do grupo.
“Parentes de pessoas privadas da liberdade em várias prisões do país confirmaram que os detentos suspenderam a greve de fome pacífica, iniciada no domingo, 9 de junho, em 19 prisões e 30 delegacias do país”, anunciou a ONG Observatório Penitenciário Venezuelano na rede social X.
Os detentos tomaram a decisão de interromper o protesto após “a revisão dos casos de alguns deles e de algumas libertações nas últimas horas, segundo o que foi acordado com o Ministério do Serviço Penitenciário”, declarou a organização.
Ativistas de direitos humanos afirmam que os centros de detenção preventiva mantêm os detidos em condições de superlotação durante anos, em alguns casos. Por lei, eles só deveriam permanecer nesses locais por alguns dias.
Várias prisões, ocupadas pelo regime no ano passado para combater o crime organizado, foram alvo de denúncias dos detentos, que citaram corrupção de funcionários, atrasos processuais, superlotação, ausência de revisão do cumprimento das penas e acesso limitado a alimentos.
Sem mencionar a greve, Maduro trocou o ministro do Serviço Penitenciário. O líder pediu ao novo chefe da pasta, Julio García Zerpa, para “acabar com a corrupção” dentro do sistema carcerário. “Temos que forjar e formar uma nova geração de agentes. O condenado ou detido não pode ser cobrado por ser levado ao banheiro”, disse o ditador.