A polícia da Nova Caledônia prendeu nesta quarta-feira (19) Christian Tein, um dos líderes de protestos pró-independência que eclodiram no território ultramarino francês nos últimos dias. De acordo com testemunhas, o ativista foi detido no momento em que se preparava para dar uma entrevista coletiva na sede de seu partido. Ele é acusado de estimular tumultos e atos de violência que ocorreram nos atos.
Segundo a imprensa local, oito pessoas foram presas, incluindo Tein. Empresas, lojas e a prefeitura da capital, Noumea, fecharam as portas após a operação devido à preocupação com novos distúrbios.
Os protestos violentos começaram no mês passado, logo após a Assembleia Nacional da França aprovar uma reforma para mudar a legislação eleitoral da Nova Caledônia. Hoje, só eleitores registrados em 1998 e seus descendentes podem participar dos pleitos regionais. Os deputados franceses querem estender esse direito a qualquer um que more na ilha há pelo menos uma década, o que Paris diz ser necessário para aprimorar a democracia local. Um quarto dos moradores se identifica como europeu.
Mas líderes da comunidade indígena kanak —que compõe cerca de 40% da população— contestam a mudança e afirmam que a expansão do direito a voto reduzirá a sua influência sobre as instituições. Para os kanaks, a reforma tornaria mais difícil a aprovação de qualquer futuro referendo sobre independência.
Ao menos nove pessoas morreram nos protestos, incluindo dois policiais, e várias outras ficaram feridas. Pressionado, o presidente francês, Emmanuel Macron, disse na semana passada ter suspendido a reforma —dias antes, o líder havia viajado à Nova Caledônia, onde se encontrou com líderes locais.
Christian Tein lidera a Célula Coordenada de Ação em Campo, um grupo ativista à frente das manifestações. Autoridades dizem que integrantes da organização fizeram barricadas de protesto em várias regiões de Noumea que interromperam o tráfego e o fornecimento de alimentos na cidade. O ativista estava no grupo pró-independência que se reuniu com Macron no mês passado.
Após a prisão, o político Daniel Goa, da Nova Caledônia, pediu calma aos manifestantes e disse aos jovens que não respondessem ao que ele chamou de provocação. Já o Alto Comissariado da França disse em em nota que o centro de Noumea estava “livre e seguro”, instando os cidadãos a retomarem a rotina. O escritório do promotor local não respondeu a um pedido de comentário feito pela agência Reuters.
Embora Macron tenha anunciado a suspensão da reforma, grupos pró-independência querem que a política seja completamente retirada da mesa de negociações antes que qualquer diálogo possa ser reiniciado. Os manifestantes dizem ainda que não podem persuadir os jovens a deixar as barricadas.
O aeroporto internacional da Nova Caledônia foi reaberto nesta semana, ainda que o toque de recolher continue em vigor e que milhares de reforços policiais franceses permaneçam no local. No mês passado, a França enviou mais de mil agentes de segurança ao território ultramarino para conter os protestos.