A fronteira entre a Coreia do Sul e seu vizinho do Norte foi novamente cenário de hostilidades nesta terça-feira (18), quando dezenas de soldados de Pyongyang cruzaram a linha que separa os dois países e recuaram após tiros de advertência, afirmou um militar de Seul.
Trata-se do segundo incidente do tipo em menos de duas semanas —assim como na primeira vez, há pouco mais de uma semana, a Coreia do Sul acredita que a travessia tenha sido acidental. De todas as formas, o episódio acrescenta mais uma camada de disputa no local, que acumula tensão desde que a Coreia do Norte enviou centenas de balões com lixo para os sul-coreanos, entre maio e junho.
“Dezenas de soldados norte-coreanos cruzaram a Linha de Demarcação Militar hoje […] e recuaram para o Norte após disparos de advertência”, disse um militar do Estado-Maior Conjunto da Coreia do Sul.
De acordo com Seul, a incursão ocorreu às 8h30 locais (20h30 de segunda em Brasília), poucas horas antes da chegada de Vladimir Putin à Coreia do Norte —a primeira visita em 24 anos do presidente russo ao país aliado.
Segundo o Estado-Maior Conjunto, entre 20 e 30 soldados norte-coreanos que carregavam ferramentas de trabalho entraram no território do Sul motivados pela explosão de minas terrestres. O Exército afirmou ainda que vários militares do país vizinho ficaram feridos quando os explosivos foram ativados perto da fronteira, sem revelar a data do ocorrido.
O comandante militar disse que os norte-coreanos estavam trabalhando na criação de um campo minado ao longo da fronteira, mas acabaram “sofrendo várias baixas em incidentes repetidos de explosão de minas terrestres durante o trabalho”.
Ainda assim, Pyongyang “parece estar avançando imprudentemente com as operações”, continuou o militar. “As atividades da Coreia do Norte parecem ser uma medida para fortalecer o controle interno, como impedir que tropas norte-coreanas e norte-coreanos desertem para o Sul.”
A vasta maioria dos norte-coreanos que escapam do país vão primeiro para a China antes de seguir para o Sul. Poucos conseguem cruzar a Zona Desmilitarizada da Coreia, uma área de quatro quilômetros, dois de cada lado, repleta de minas terrestres e com intensa presença militar em ambos os lados.
Em 2018, os dois lados chegaram a retirar minas da linha de fronteira como um gesto de redução das hostilidades. Naquele ano, aliás, as Coreias assinaram um texto após reuniões históricas que tentavam evitar uma escalada militar entre os países, em armistício desde o fim do conflito que dividiu a península, em 1953. As duas Coreias permanecem tecnicamente em guerra, pois o conflito não terminou em um tratado de paz.
O acordo, no entanto, foi suspenso por Seul nas últimas semanas como resposta aos balões com lixo, panfletos políticos e até fezes que Pyongyang enviou ao Sul. Segundo a Coreia do Norte, a ação foi uma resposta aos infláveis com dinheiro, remédios e até pen drives com música do gênero k-pop que ativistas sul-coreanos mandam para o país vizinho. Além de suspender o texto de 2018, a Coreia do Sul retomou a transmissão de propaganda com alto-falantes na fronteira
Para Koh Yu-hwan, professor emérito e especialista em assuntos norte-coreanos da Universidade Dongguk de Seul, as ações “têm um significado simbólico”. Com a instalação de minas, o ditador norte-croreano, Kim Jong-un, tenta demonstrar que “não haverá reconciliação com o Sul”.
“A Coreia do Norte não está implementando minas ao longo de toda a linha, apenas em áreas facilmente visíveis a partir do Sul. Também estão bloqueando estradas e ferrovias que antes eram zonas de cooperação entre os dois países”, acrescentou o analista.