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Republicanos fazem 1º debate presidencial sem Trump – 22/08/2023 – Mundo

Economia, violência e saúde são temas recorrentes em debates eleitorais americanos. Nenhum deles, porém, deve ser tão importante quanto o tópico “Donald Trump” nesta quarta (23), quando acontece o primeiro debate entre os candidatos que pleiteiam a vaga do Partido Republicano na corrida presidencial do ano que vem.

E isso considerando que Trump nem deve participar –ênfase no “deve”, dada sua imprevisibilidade. A justificativa para não comparecer é a larga vantagem que ele tem nas pesquisas de intenção de voto até aqui.

Para não ficar fora dos holofotes, deve ir ao ar no mesmo horário uma entrevista pré-gravada do magnata com Tucker Carlson, ex-estrela da Fox News —o mesmo canal em que o debate será televisionado. Na quinta-feira (24), um dia após o evento, o noticiário promete se voltar mais uma vez em direção a Trump. Ele anunciou que se entregará à Justiça da Geórgia na data, parte do processo criminal mais recente do qual ele é alvo.

Assim, resta aos oito participantes do confronto se agarrar a essa oportunidade para provar para eleitores e doadores de campanha quem é a melhor alternativa ao ex-presidente em uma disputa contra o democrata Joe Biden.

Pesquisa recente com a base do partido mostra que há espaço para isso: os republicanos mais fiéis a Trump de acordo com classificação elaborada pelo jornal The New York Times somam 38%. Os outros 62% se dividem entre conservadores tradicionais, conservadores libertários, o establishment moderado do partido e um segmento jovem recém-chegado. Em comum, eles compartilham uma rejeição em maior ou menor grau ao ex-presidente, e podem fazer a diferença nas primárias se convergirem em torno de uma outra opção.

As atenções estão voltadas sobretudo para três candidatos: o governador da Flórida, Ron DeSantis, o senador pela Carolina do Sul Tim Scott, e o empresário de tecnologia Vivek Ramaswamy.

Em segundo lugar na preferência dos republicanos, DeSantis deve ser o principal alvo de ataques dos seus concorrentes. Para piorar, ele chega ao debate no pior momento de sua campanha até agora. Sem conseguir decolar nas pesquisas –Trump o supera por mais de 20 pontos percentuais–, o governador trocou de coordenador de campanha e demitiu cerca de um terço de sua equipe no último mês.

“Mas com frequência é o produto, e não a embalagem, o problema”, escreveu na CNN o estrategista-chefe das campanhas de Obama, David Axelrod.

DeSantis ganhou projeção por sua briga contra o que chama de “woke” –forma pejorativa de se referir ao pensamento politicamente correto de esquerda. A guerra pegou até a Disney pelo caminho, que suspendeu um projeto bilionário no estado do governador.

A cruzada, no entanto, parece não ter tanto apelo com seu público-alvo. Segundo pesquisa divulgada em julho pelo New York Times/Siena College, 65% dos eleitores em primárias republicanas dizem preferir candidatos preocupados em “restaurar a lei e a ordem nas nossas ruas e fronteiras” aos que priorizam “derrotar a ideologia radical ‘woke’ nas nossas escolas, mídia e cultura”.

DeSantis ainda vem sendo alvo frequente de chacota sobre sua falta de tato social. Em um episódio recente, em Iowa, ele criticou uma criança por provavelmente estar comendo “muito açúcar” e, em seguida, dizer “bom te ver”.

Para piorar, no final de semana circulou na imprensa uma espécie de guia para a estratégia de debate do governador, em que a orientação é defender Trump, emaranhado em quatro processos criminais, e “dar uma marretada” em Ramaswamy.

Filho de imigrantes indianos, o empresário de tecnologia de 38 anos tem aparecido em terceiro lugar na preferência de republicanos –sobretudo em pesquisas feitas pela internet, não por telefone. Uma hipótese para essa disparidade levantada pelo site Politico é a dificuldade do eleitorado de pronunciar seu sobrenome, o que levaria os entrevistados a evitar mencioná-lo nas chamadas telefônicas, além do próprio perfil do apoiador de Ramaswamy, que tende a ser mais jovem.

Como Trump em 2016, ele disputa a nomeação sem nunca ter ocupado um cargo público. Também como Trump, sua estratégia de divulgação tem um apelo forte nas redes sociais. Assim, para Ramaswamy, o debate é a oportunidade para se tornar conhecido para um público mais amplo e tradicional.

O timing do evento também é bom para Tim Scott, que vem subindo nas pesquisas de intenção de voto. Único senador republicano negro, ele vem apostando em um tom mais otimista em sua campanha, evitando ataques a outros candidatos. Para analistas, essa deve ser sua estratégia nesta quarta.

Os outros cinco participantes do debate figuram nos últimos lugares nas pesquisas de intenção de voto, e veem na contenda verbal uma oportunidade de virar o jogo. Três deles compartilham a postura crítica a Trump dentro do partido: o ex-vice-presidente Mike Pence; o ex-governador de Nova Jersey Chris Christie; e o ex-governador do Arkansas Asa Hutchinson.

Apesar da proximidade com Trump, Pence tornou-se um dos seus maiores opositores entre os republicanos –contrastar uma imagem de sensatez e moderação com o radicalismo do ex-presidente é um ponto-chave da sua campanha.

É de Christie, no entanto, que são esperados os ataques mais agressivos a Trump durante o debate. A tarefa não é difícil, tendo em vista os quatro processos criminais ao qual o ex-presidente responde, acusado de crimes que vão de defraudar os Estados Unidos a associação criminosa.

Finalmente, os azarões são a ex-governadora da Carolina do Sul e ex-embaixadora dos EUA na ONU Nikki Haley, e o governador da Dakota do Norte, Doug Burgum.

“Me subestime – Isso vai ser divertido” era a frase estampada na camiseta de Haley durante um evento recente com eleitores em Iowa. Mulher e de ascendência indiana, a candidata é vista com algum risco por democratas.

Burgum, por sua vez, praticamente “comprou” sua participação no debate. Como um dos critérios do partido do partido é ter ao menos 40 mil doadores, o governador ofereceu um cartão-presente no valor de US$ 20 para qualquer um que doasse US$ 1 para sua campanha.

Quem são os participantes do primeiro debate das primárias republicanas

Ron DeSantis

Em segundo lugar na preferência de eleitores republicanos, o governador da Flórida é o principal adversário de Trump na disputa. Alvo de ataques do ex-presidente, tem visto a candidatura minguar à medida que correligionários aglutinam apoio ao rival e diante de uma série de gafes na campanha. DeSantis dobra a aposta no radicalismo de Trump nas pautas das chamadas “guerras culturais”, como seu ataque ao que chama de “ideologia woke” ao assinar leis contra o ensino de diversidade sexual e questões raciais ou ao reduzir o limite legal para o acesso ao aborto para seis semanas de gestação. É considerado uma espécie de Trump mais jovem, sem as pendências na Justiça e resistência do corpo político —mas também sem o mesmo carisma.

Mike Pence

Vice-presidente durante o governo Donald Trump, foi chamado de traidor por apoiadores do ex-líder americano ao não apoiar a tentativa de reverter o resultado da eleição de 2020, vencidas por Joe Biden. Apesar disso, tem certo apoio entre a base conservadora mais religiosa. Pence foi deputado por Indiana de 2001 a 2013 e governador do mesmo estado de 2013 a 2017. Tem aparecido em terceiro ou quarto lugar nas pesquisas de intenção de voto de republicanos.

Tim Scott

Senador pela Carolina do Sul desde 2013, é considerado uma estrela em ascensão dentro do Partido Republicano, e por isso tem apoio de colegas importantes na legenda. Negro, se opôs a Donald Trump em questões relacionadas ao racismo e cobrou em mais de uma ocasião o ex-presidente por minimizar movimentos supremacistas brancos.

Nikki Haley

Ex-governadora da Carolina do Sul (2011-2017), foi embaixadora dos EUA na ONU (2017-2018) durante o governo Trump. Por ser mulher e filha de indianos, representa diversidade no partido. Tentou se contrapor a DeSantis ao afirmar que a Carolina do Sul estaria aberta a receber os parques da Disney após o governador da Flórida retirar isenções de impostos e de regulação benéfica que a empresa tem no estado.

Asa Hutchinson

Ex-governador do Arkansas (2015-2023), tem experiência na política partidária desde os anos 1980. É opositor de Donald Trump dentro do Partido Republicano, criticou correligionários que sustentam que a eleição de 2020 foi roubada e já pediu que o ex-presidente se retirasse da corrida à Casa Branca.

Vivek Ramaswamy

Sem experiência política, o investidor e ex-CEO de companhia farmacêutica ganhou notoriedade ao criticar ações de diversidade de empresas, bem como políticas ESG, que orientam negócios a partir de princípios ambientais e sociais.

Chris Christie

O ex-governador de Nova Jersey (2010-2018) tenta ganhar a nomeação do Partido Republicano pela segunda vez —na primeira, para as eleições de 2016, não conseguiu apoio suficiente, abandonou a candidatura e apoiou Trump. Christie, que já era cotado pelo partido para o pleito presidencial de 2012, passou de um apoiador de primeira hora do empresário para um ex-aliado. Agora, o ex-promotor federal deve se apresentar como uma terceira via entre Trump e DeSantis.

Doug Burgum

Governador de Dakota do Norte eleito pela primeira vez em 2016 e reeleito em 2020, fez carreira como empresário do setor de informática.

Fonte: Folha de São Paulo

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