Com o início da guerra entre Israel e o Hamas no fim de semana, os debates em torno da questão palestina voltaram a se acirrar nos mais diversos campos —incluindo o acadêmico. Nos Estados Unidos, por exemplo, alunos de instituições de ensino prestigiosas divulgaram textos em que alegavam que a brutal incursão realizada no sábado (7) foi resultado direto não de atos terroristas, mas dos anos de ocupação do território palestino por parte do governo israelense.
Uma coalizão formada por 34 organizações estudantis de Harvard publicou, por exemplo, um comunicado em que afirmava que o que chamou de “regime de apartheid” promovido por Israel na Faixa de Gaza era “o único culpado” pela violência que acometeu o país. Cerca de 2,3 milhões de pessoas vivem no enclave, há 16 anos sob bloqueio de serviços básicos —um cenário que muitos ativistas descrevem como “a maior prisão a céu aberto do mundo”.
Na Universidade de Nova York, a NYU, Ryna Workman, presidente da associação estudantil da escola de direito, escreveu em um boletim informativo da entidade que se recusava a condenar os palestinos porque, segundo ela, foi o regime de violência promovida pelo Estado de Israel que criou “as condições que tornaram a resistência necessária”.
Ambos os comunicados geraram ampla repercussão, dentro e fora da comunidade judaica americana. Workman, da NYU, acabou perdendo uma oferta de emprego de uma famosa firma de advocacia em razão de suas declarações. Já no caso de Harvard, a mais influente universidade da política americana, as declarações tiveram ainda mais desdobramentos devido à demora da instituição para se manifestar.
Na terça-feira, ela enfim se posicionou. “Embora nossos alunos tenham o direito de falar por si mesmos, nenhum grupo ou mesmo 30 deles fala pela universidade ou por sua liderança”, disse Claudine Gay, reitora da instituição, em comunicado.
As organizações estudantis que assinaram a carta pró-Palestina incluem grupos de apoio muçulmanos e palestinos, além de movimentos de origens diversas, como os Judeus de Harvard pela Libertação e Organização de Resistência Afro-Americana, segundo a agência Reuters.
O jornal New York Post reportou que um caminhão circula pelo campus da universidade, localizada no estado de Massachusetts, no oeste dos EUA, com painéis exibindo os nomes e as fotos dos estudantes que supostamente assinaram a declaração sob as palavras “Líderes Antissemitas de Harvard”. A responsável pelo veículo é a organização sem fins lucrativos Accuracy in Media.
Larry Summers, ex-presidente de Harvard e ex-secretário do Tesouro dos EUA, criticou a liderança atual da universidade por não ter condenado inicialmente a carta de solidariedade aos palestinos. Nas redes sociais, ele escreveu que Harvard parece ser “no máximo neutra em relação a atos de terror contra o Estado judeu de Israel”.
Ao portal NBC News, o estudante de matemática Jacob Miller, 21, presidente de uma das divisões da organização estudantil judaica Hillel em Harvard, afirmou nunca ter vivenciado tensão tão grande no campus quanto nos últimos dias. Ele afirmou que seus pares estavam tendo crises de choro e dificuldades para se concentrar.
Enquanto isso, na Universidade Estadual da Califórnia, uma ação de apoio à causa palestina foi criticada nas redes sociais, levando uma associação estudantil a restringir seu perfil no Instagram para preservar a segurança dos alunos.