O governo da Finlândia afirmou nesta terça (10) que os danos a um gasoduto e um cabo submarino de comunicações entre o país e a Estônia, sob o mar Báltico, foram provavelmente resultado de uma sabotagem.
O ramal duplo, chamado Balticconnector, tem 77 km. No domingo (8), foi detectado um vazamento com a queda na pressão do gás, e as comunicações por meio do cabo paralelo foram cortadas. “É provável que os danos a ambos foi resultado de uma atividade externa. A causa não é clara ainda”, afirmou o presidente finlandês, Sauli Niinisto.
O caso, ocorrido enquanto os olhos do mundo se voltavam para o ataque do Hamas contra Israel e a reação de Tel Aviv, remete imediatamente a um dos episódios mais obscuros no contexto da Guerra da Ucrânia: as explosões que destruíram 3 dos 4 ramais do sistema de gasodutos russo Nord Stream há um ano.
Uma obra muito mais importante e grandiosa, com 1.200 de ligação entre a Rússia e a Alemanha, ela está inutilizada desde então. A Rússia diz que a explosão foi causada pelos EUA e pelo Reino Unido, que negam. Com a invasão da Ucrânia, em fevereiro do ano passado, a Europa tentou reduzir sua dependência do gás natural russo, mas cerca de 15% de seu abastecimento ainda vem de Moscou.
Esse produto, ironicamente, passa pela Ucrânia, que segue recebendo a taxa de trânsito de Moscou —nos níveis anteriores à guerra, algo como R$ 15 bilhões anuais. O Nord Stream era a joia da coroa das relações russo-alemães, e visava driblar esse ramal ucraniano, mas as tensões antes da guerra e a saída de Angela Merkel do governo em Berlim no fim de 2021 congelaram a abertura do seu segundo par de ramais.
Aparentemente, o dano no sistema finlandês não é tão sério, e a sua operadora afirma que em um mês poderá ser consertado. Tanto Estônia quanto Finlândia estão com estoques grandes de gás natural, decorrência de políticas para evitar os efeitos da guerra. Já o cabo de comunicação era usada como reserva apenas.
A Finlândia aderiu à Otan em abril, dobrando a fronteira terrestre entre a aliança militar ocidental e a Rússia. Foi uma das maiores derrotas políticas de Vladimir Putin na guerra, dado que a invasão foi justificada como uma forma de impedir a entrada da Ucrânia e sua vasta área de contato com a Rússia no grupo. A Estônia, uma ex-república soviética, já é membro desde 2004.
Nesta terça, o secretário-geral da organização, o norueguês Jens Stoltenberg, afirmou que a Otan está analisando a situação e que mantém total apoio a seus integrantes. O sistema danificado passa pelo golfo da Finlândia, um pedaço do Báltico que chega até São Petersburgo, na Rússia.
O governo vizinho da Suécia, que está na fila para entrar na Otan, barrada por ora por Turquia e Hungria, ofereceu apoio para os reparos. “Apoiamos nossos colegas”, afirmou o chanceler Tobias Billstrom no X (ex-Twitter).