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A China está descobrindo que o vespeiro no Oriente Médio é muito mais delicado do que esperava. Com os ataques terroristas perpetrados por combatentes do Hamas no sul de Israel, Pequim se viu às voltas com um xadrez diplomático dificílimo de ser jogado.
- A chancelaria chinesa reagiu aos eventos em Israel e Gaza por meio de um comunicado divulgado neste domingo (8). Pequim pediu que ambas as partes “mantenham a calma, exerçam contenção e interrompam imediatamente as hostilidades para proteger civis e evitar uma deterioração da situação”, e evitou mencionar o Hamas;
- O ministério disse ainda que “a saída fundamental do conflito reside na implementação da solução de dois Estados e no estabelecimento de um Estado da Palestina independente”, posicionamento tradicional da diplomacia chinesa;
A situação se complicou na madrugada de segunda-feira (9), após a confirmação de que uma mulher sequestrada pelos terroristas tinha nascido na China e era filha de pais chineses.
- Vários internautas fizeram apelos nas redes, pedindo que o regime intercedesse em seu favor.
A nota chinesa foi mal recebida por senadores dos Estados Unidos que haviam chegado a Pequim no sábado (7). Chuck Schumer, senador democrata que lidera a comitiva, se encontrou com o chanceler chinês, Wang Yi, e com Xi Jinping e disse estar “muito decepcionado com o fracasso da China em condenar veementemente o ataque a Israel”.
Após reunir-se com Xi por quase uma hora e meia, a diplomacia chinesa atualizou o comunicado, demandando o fim de “toda a violência e de ataques contra civis” e defendendo que “a tarefa mais urgente agora é alcançar um cessar-fogo e restaurar a paz”.
Por que importa: a sequência de eventos no Oriente Médio colocou a China em uma posição complicada. Em março, Pequim conseguiu um feito diplomático notório ao mediar a restauração das relações diplomáticas entre a Arábia Saudita e o Irã, dois inimigos históricos com interesses diretos no conflito.
- O Irã, porém, é um parceiro próximo do Hamas. Por meio da sua agência oficial de notícias, Teerã chamou os ataques de “operação vitoriosa” e disse que eles seriam resultado direto das ações tomadas pelo “regime sionista de ocupação”, como usualmente se refere à Israel. Ainda assim, os iranianos negam que tenham prestado auxílio financeiro, logístico ou militar aos terroristas.
Ambos Riad e Teerã foram aceitos nos Brics na última cúpula do grupo, realizada na África do Sul. A diplomacia chinesa vai precisar caminhar por linhas tênues se não quiser reverter o capital político que ganhou no Oriente Médio ao se aproximar de ambos.
Pare para ver
Autor: Ehmet se notabilizou pelo trabalho retratando o cotidiano de uigures muçulmanos na província. Leia mas sobre ele aqui. (em inglês)
O que também importa
★ A influenciadora digital chinesa Li Ziqi retornou à internet após um hiato de dois anos. Com mais de 17 milhões de seguidores no YouTube, 2,7 milhões no Facebook e quase 850 mil no Instagram, Li ficou famosa no mundo todo por vídeos serenos em que retrata a vida rural na China. Especulava-se que ela tinha desistido da carreira após se recusar a comercializar sua presença digital, o que irritou a agência que a representava, Hangzhou Weinian Brand Management Co. Ltd.. Postado no Douyin (versão chinesa do TikTok), o novo vídeo de 15 segundos atraiu milhares de fãs, que pediram o retorno dela às redes sociais.
★ A economia da China deve atingir a meta de crescimento econômico estabelecida por Pequim para 2023, previu um importante think tank governamental. Segundo o Instituto de Economia da Academia Chinesa de Ciências Sociais (CASS), o PIB (Produto Interno Bruto) da China crescerá 5,1% no quarto trimestre deste ano. O relatório, porém, apontou preocupações sobre a sustentabilidade desse crescimento no futuro.
Fique de olho
O chefe de inteligência de Taiwan, Tsai Ming-yen, disse em coletiva de imprensa que o ex-chanceler chinês, Qin Gang, e o ex-ministro da Defesa, Li Shangfu, foram afastados de suas funções após investigações disciplinares.
- Segundo ele, Qing Gang estaria ligado a um suposto escândalo sexual após seu caso com Fu Xiaotian, jornalista da mídia estatal, ser descoberto por oficiais do Partido Comunista;
- Já Li Shangfu teria sido pego em investigações anti-corrupção que remontam a outubro de 2017, quando ele ainda era chefe do Departamento de Desenvolvimento de Equipamentos da Comissão Militar Central.
Qing Gang foi removido do seu cargo em julho e Li Shangfu, em setembro. Ambos ascenderam na carreira pela proximidade que tinham com Xi Jinping, e não tiveram seus desaparecimentos justificados pelo regime. Embora não tenham sido mais vistos, ambos ainda mantêm seus cargos no Conselho de Estado.
Por que importa: embora os comentários estejam alinhados com rumores que circulam desde a remoção de Qing e Li, esta é a primeira vez que uma entidade estatal falou com a imprensa a respeito. A saída de dois dos principais ministros chineses lançou dúvidas sobre a previsibilidade do engajamento de Pequim com o resto do mundo.
Para ir a fundo
- A Universidade Estadual da Paraíba realiza a partir do dia 20 de outubro o “Seminário sobre China e América Latina na Contemporaneidade”. A programação contará com pesquisadores que estudam as relações econômicas e estratégicas sino-latino-americanas. Haverá emissão de certificado para os participantes. Mais informações aqui. (gratuito, em português)
- O Clube do Chinês abriu inscrições para um curso de mandarim para jornalistas e estudantes de jornalismo. O programa é direcionado a quem tem conhecimentos básicos do idioma e também terá palestras com sinólogos sobre vários temas recorrentes no noticiário. Os melhores alunos ganharão uma bolsa para aprimorar os estudos na China. Interessados podem entrar em contato no Instagram. (pago, em português)