Rafael Zimerman, 27, chegou em maio a Israel. Tinha deixado o Brasil, entre outras razões, devido à falta de segurança do país. No sábado (7), saiu para dançar com os amigos. A festa foi interrompida pela invasão de militantes da facção terrorista palestina Hamas. Mais de 250 morreram no evento.
Zimerman fugiu com outros dois brasileiros e se escondeu em um abrigo. “Foi aí que o inferno começou”, diz. Homens armados cercaram o local, lançaram granadas e dispararam contra eles. O brasileiro conta que teve que se fingir de morto por horas. “Me esparramei por cima dos corpos, só queria morrer tranquilo. Só queria que atirassem em mim.”
Ele sobreviveu. Foi resgatado pelas forças de segurança ao lado da brasileira Rafaela Treistman. Ranani Glazer, namorado de Treistman, segue desaparecido. O receio é de que tenha sido capturado pelo Hamas.
Zimerman foi ferido nas costas por estilhaços e teve que ser hospitalizado. Quando voltou para casa e tomou um banho, a água saiu suja de pólvora. Agora tenta entender o que aconteceu, planejar o futuro.
Abaixo, o depoimento que deu à Folha de um local próximo a Tel Aviv.
Cheguei há cinco meses. Vim para ficar. O que me fez sair do Brasil foi a insegurança. Estava tentando construir uma vida aqui. Agora vou ter que pensar no que fazer, em como agir. Ao mesmo tempo em que quero abraçar minha mãe, eu quero mostrar que o terrorismo não vai vencer.
Eu não esperava isso. Estava em uma rave mundialmente conhecida. Eram jovens se divertindo, dançando, conhecendo gente. Eu sei que é a Faixa de Gaza, mas foi o maior ataque contra Israel dos últimos 50 anos.
Eu estava com Ranani Glazer e com Rafaela Treistman, a namorada dele. Estouraram os mísseis e a festa parou. Emitiram um alerta no microfone: “Todo o mundo se proteja.” Nós nos encontramos na nossa barraca. Ranani sugeriu que a gente fosse para o abrigo se proteger. A gente pegou uma carona no meio da estrada até o bunker em um ponto de ônibus. Foi chegando gente. Tinha dois policiais, acho. Em torno de 50 pessoas.
Foi aí que o inferno começou. Começaram a atacar com granadas e tiros. Eu estava na parede, sentia e ouvia tudo. Entendemos que os policiais estavam lutando contra os terroristas. Pegaram a policial e mataram ela. O desespero tomou conta de geral. A gente tinha certeza que ia morrer.
Jogaram gás dentro do abrigo para nos matar asfixiados. Logo me veio a memória da Segunda Guerra Mundial, quando os judeus morreram nas câmaras de gás dos nazistas. Tentei ao máximo respirar, mas as pessoas estavam loucas. Uma delas me mordia sem parar. Perdeu a sanidade. Eu rezava. Não parava de rezar. Começaram a atirar dentro.
Fiquei lá me fingindo de morto por um bom tempo. Me esparramei em cima dos corpos. Só queria morrer tranquilo. Só queria que atirassem em mim. Alguém me tocou, viu que eu estava vivo. Estava vestido de civil. Achei que fosse me matar. Quando saí do abrigo, dei de cara com a polícia. Estava com a Rafaela. Mas o Ranani infelizmente não saiu com a gente.
Chorei demais. Agradeci. O que falei com Deus não está escrito. Quando vi a Rafaela, só pensava em cuidar dela. Sair sem o Ranani foi uma dor enorme para ela. Ontem tomei um banho e só saía pólvora do meu corpo.
As pessoas precisam ouvir meu relato. É a vida contra a morte. Eles foram lá pegar pessoas para matar. Uma das minhas missões é tentar passar o que acontece aqui. O Brasil tem que entender que não dá para apoiar terroristas. Querem matar a gente. Tem pessoas boas em Gaza, sim. Mas estamos avisando que saiam de casa. A gente vai ter que atacar.
O que passei é desumano. Não desejo a ninguém. Estou vivo por um milagre. Queria voltar para o Brasil por causa da minha mãe, só que tenho pendências aqui. Sou um sobrevivente de guerra. Tem muito amigo meu no Exército. Não quero ir embora sem nem olhar para trás.