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Eleições na Argentina: o que candidatos disseram em debate – 02/10/2023 – Mundo

Os candidatos à Presidência da Argentina se enfrentaram pela primeira vez em um debate televisivo neste domingo (1º), a três semanas das eleições de 22 de outubro. O evento terminou com algumas frases polêmicas e trocas de acusações de todos os lados, mas sem grandes discussões nem um vencedor ou perdedor claro.

A avaliação geral na imprensa foi de que todos tentaram manter sua base de eleitores, sem se arriscar muito: o ultraliberal Javier Milei, líder nas pesquisas, se apresentou mais comedido apesar de algumas falas, o ministro da Economia Sergio Massa buscou minimizar danos e plantear um governo de coalizão, e a candidata macrista Patricia Bullrich tentou reforçar a imagem de corajosa e linha-dura.

Participaram também o peronista não kirchnerista Juan Schiaretti, governador de Córdoba, e a esquerdista Myriam Bregman, uma das figuras mais comentadas por suas frases fortes de oposição, como “Milei não é um leão, é um gatinho mimado do poder econômico”. Juntos, porém, eles dois somaram menos de 7% dos votos nas primárias, em agosto, quando Milei foi considerado o grande vencedor.

O programa, que diferentemente do Brasil é organizado pela Justiça Eleitoral e exibido por diversos canais e rádios, teve como eixos três temas: economia, educação e direitos humanos e convivência democrática, este último votado pela população. Outra novidade foram os direitos de resposta, que não existiam antes. Um segundo debate ocorre no próximo domingo (8), em Buenos Aires.

Ultraliberal Javier Milei, deputado e economista

Argentina X países desenvolvidos

“Nós propomos fazer uma reforma do Estado, diminuir drasticamente o gasto público, reduzir impostos, simplificar o sistema tributário, desregular a economia, fazer privatizações para tirar as nefastas empresas do Estado da frente, abrir a economia e fechar o Banco Central. Com esse conjunto de reformas, a Argentina, em 15 anos, poderia estar alcançando níveis de vida parecidos aos que têm Itália e França. Se me dão 20, Alemanha, e se me dão 35, Estados Unidos

Mortos pela ditadura

“Não foram 30 mil desaparecidos [na ditadura militar], foram 8.753 [o número oficial, considerado subestimado, é de 8.631 mortos e desaparecidos]. Estamos absolutamente contra uma visão torta da história. Para nós, durante os anos 1970, houve uma guerra e nessa guerra as forças do Estado cometeram excessos. E por ter o monopólio da violência, se utilizaram de todo o peso da lei. Mas os terroristas de Montoneros e do ERP [grupos guerrilheiros] também mataram, assassinaram e torturaram pessoas, colocaram bombas”

Patriarcado

“Eu nego [o patriarcado e a diferença salarial] por evidências empíricas. Quando você desagrega as médias e considera profissão por profissão, a desigualdade desaparece. Mas se você [Myriam Bregman] tivesse razão e houvesse os malditos exploradores capitalistas que você cita, que só querem ganhar dinheiro, você deveria entrar em uma empresa e ver apenas mulheres [homens ganham 28% a mais do que mulheres em média na Argentina, segundo estudo do governo]”


Governista Sergio Massa, ministro da Economia

Culpa pela inflação

Eu tenho claro que a inflação é um problema enorme na Argentina. Também tenho claro que os erros deste governo causaram danos às pessoas. E por isso, ainda que eu não fosse parte até assumir como ministro da Economia [em agosto de 2022], peço desculpas. A Argentina enfrenta enormes dificuldades porque retira mais dólares do país do que traz, tem uma parte de sua economia na informalidade e também enfrenta problemas em seu sistema tributário que limitam seu desenvolvimento”

Críticas à dolarização

“Zimbabue, Ecuador e El Salvador. Isso é o que lhes propõe Milei [ao dolarizar a economia]. A verdade é que a Argentina tem que entrar en um projeto de desenvolvimento. Gasodutos, venda de energia ao mundo, exportação de valor agregado são o caminho para acumular reservas e fortalecer nossa moeda. Colocar a bandeira de outro país nas [ilhas] Malvinas ou no Banco Central, como propõe esse senhor, é simplesmente renunciar ao sangue dos que caíram e à soberania para o desenvolvimento de nossas empresas

Críticas a Bullrich

Quero perguntar [a Bullrich] se o bimonetarismo [modelo em que dólar e pesos convivem] que estão propondo foi copiado da Venezuela ou de Cuba, que são os dois países que hoje têm esse sistema. E depois quero agradecer a Patricia porque permitiu que eu tivesse uma das maiores satisfações da minha vida. Ela fala dos aposentados, mas coube a mim ver o sorriso dos aposentados quando tive que devolver os 13% que ela cortou [como ministra de Fernando de la Rúa antes da grande crise de 2001]”


Patricia Bullrich, da oposição macrista Juntos por el Cambio

Força da oposição

“Hoje estamos diante da batalha final contra o kirchnerismo. A única maneira de fazê-lo é com coragem e poder político. Atualmente, nós temos poder político próprio: governadores, prefeitos e maiorias no Congresso. Juntos por el Cambio é a única força de oposição que vai garantir a mudança do que foi arruinado pelo kirchnerismo na Argentina. Eu não dou o braço a torcer. Nunca vou negociar a mudança [em referência a acusações sem provas de um acordo entre Massa e Milei]”

Forças de segurança

“Quero enviar um grande abraço aos gendarmes [força de segurança federal] que foram absolvidos, suas famílias destroçadas, seus filhos chamados de assassinos na escola. Tudo o que fizeram foi cumprir a lei e o dever. É assim que sempre tratam as Forças Armadas e as forças de nosso país. Não os deixam viver em democracia, os isolam. Eu presto homenagem a eles. [O caso de] Santiago Maldonado [jovem desaparecido em conflito de terras] foi julgado e todos foram absolvidos. É preciso dizer a verdade, que ela não se defende sozinha”

Críticas na educação

“Mães e pais, comigo, a história das paralisações [de professores] se acaba e o doutrinamento ´nas escolas] se acaba de uma vez por todas. […] Milei, você não se importa com a educação. Vá com seu voucher [ele propõe um sistema que dê dinheiro às famílias, e não às escolas] a Puna [região montanhosa] ou a qualquer outro lugar. Você não conhece a Argentina, você planteia um modelo que só serve para a cidade de Buenos Aires

Fonte: Folha de São Paulo

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