Nesta sexta-feira (29), o líder da centro-direita espanhola, Alberto Núñez Feijóo, fracassou em sua nova tentativa de formar um governo e tirar a Espanha do impasse político em que o país se encontra desde 23 de julho, quando ocorreram as eleições gerais.
Apesar de ser o grupo político mais votado, o Partido Popular não obteve na primeira votação, na quarta-feira (27), os votos necessários para eleger seu candidato como primeiro-ministro. Feijóo precisava de 176 cadeiras. Seus parlamentares, os do PP, os da extrema direita do Vox e os dos dois únicos candidatos da Coalizão Canária e União do Povo Navarro não foram suficientes, e Feijóo ficou a quatro votos de suceder a Pedro Sánchez, premiê em exercício e candidato do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE).
Feijóo submeteu-se novamente à votação dos legisladores nesta sexta, mas acabou com placar semelhante. Desta vez, ele precisava apenas de mais votos a favor do que contra; no entanto, os votos contrários totalizaram 177, provenientes da esquerda e dos nacionalistas catalão, basco e galego —neste último caso sem distinção entre conservadores e progressistas.
E aconteceu o que era esperado, o que, apesar de muitos acenos e tentativas de romper a disciplina partidária de seus oponentes, já se sabia há um mês: o fracasso da investidura.
Feijóo passou toda a campanha da investidura acusando Pedro Sánchez de se aproximar dos nacionalistas catalães, e são justamente esses nacionalistas catalães, tanto os de direita (Junts) quanto os de esquerda (ERC), que detêm a chave do governo.
Por sua vez, diante de uma iminente votação da investidura de Sánchez, os socialistas lançam um aviso claro em plena negociação de exigências com ERC e Junts: não há espaço para um referendo sobre a autodeterminação da Catalunha. Isso deixa na mesa de negociação apenas a anistia daqueles que participaram na organização do referendo ilegal em 2017. Se isso não for suficiente para os catalães, o socialista não contará com seu apoio na votação de investidura, e os espanhóis terão que voltar às urnas.
De acordo com a legislação espanhola, caso nenhum candidato obtenha a confiança do Congresso, o rei dissolve as Câmaras e o país terá que ir a novas eleições, como aconteceu em 2015. As novas eleições seriam realizadas em janeiro. E, nesse ponto, se a direita conseguir mais votos do que nas eleições passadas e assumir o governo, os catalães veriam qualquer oportunidade de diálogo desaparecer.
Poderia se pensar que o declínio do Vox nas eleições de 23 de julho, quando perdeu quase metade de seus assentos no Parlamento, indicaria um desejo evidente da Espanha de se afastar dos extremos. No entanto, o uso da questão independentista catalã ou basca visa inflar o sentimento patriótico dos espanhóis simpáticos à direita.
Uma carta na manga recorrente da bancada direitista (tanto do PP quanto do Vox), que inclusive não poupou esforços em sua tentativa de ‘ressuscitar’ a ETA nos últimos meses, para se apresentar como a grande defensora da democracia. Um discurso repetido à exaustão que pode custar caro até mesmo ao PP.
O partido conservador, contra toda intenção, diante da ameaça de um hipotético independentismo e da finada banda terrorista, pode testemunhar uma nova debandada de eleitores em direção ao extremismo do Vox, surpreendendo a Europa, que respirou aliviada em julho quando interpretou que o aumento dos partidos de extrema direita tinha sido contido.
Sem o cargo de premiê, tanto se Pedro Sánchez for investido quanto se novas eleições forem convocadas, Feijóo enfrenta um novo problema, desta vez em suas fileiras: o crescente apoio à polêmica Isabel Díaz Ayuso, a atual presidente da Comunidade de Madri, como líder do PP. Algo que ficou evidente quando, na noite eleitoral de 23 de julho, os eleitores populares interromperam o discurso de Feijóo na sede do partido para gritar o nome de Ayuso.