O soldado americano Travis King, que havia sido preso em julho ao cruzar a fronteira da Coreia do Norte sem autorização, chegou aos Estados Unidos nesta quinta (28), após ser expulso do país asiático.
King desembarcou em uma base militar do Texas por volta da 0h30 no horário local (2h30 em Brasília). Ao longo do dia, ele deveria passar por uma bateria de exames médicos no mesmo hospital que recebeu em dezembro a jogadora de basquete americana Brittney Griner, libertada numa troca de prisioneiros no ano passado após 10 meses de prisão na Rússia.
Segundo o governo americano, King também deve passar por um processo de reintegração para que possa se reunir com sua família. O soldado foi detido em 18 de julho e ficou mais de 2 meses recluso após invadir o território norte-coreano enquanto participava de uma excursão turística pela zona desmilitarizada que separa as Coreias.
A área, conhecida pela sigla DMZ em inglês, é o único ponto de contato direto entre a ditadura comunista ao norte e a democracia capitalista ao sul, sendo vigiada por agentes de segurança de ambos os lados. A captura de King teve ampla repercussão e mobilizou várias autoridades americanas, que atuaram por sua libertação.
Não está claro se King enfrentará ações disciplinares por parte do Exército dos EUA, que até o momento não o chamou de desertor, embora o soldado tenha cruzado a fronteira sem autorização. O regime da Coreia do Norte, por sua vez, parece ter tratado a invasão como um caso de imigração ilegal.
Nesta quarta, o regime decidiu expulsar King após concluir uma investigação sobre o episódio. Segundo a agência de notícias estatal norte-coreana KCNA, o soldado entrou no país de forma ilegal porque estava “desiludido com a sociedade desigual dos EUA”. Em agosto, Pyongyang informou que ele havia solicitado refúgio sob a alegação de “tratamento desumano e discriminação racial” nas Forças Armadas americana.
O governo sueco, que representa os interesses dos EUA na Coreia do Norte porque Washington não tem presença diplomática no país, intermediou as negociações para que King fosse libertado. O soldado, então, foi enviado à China, uma das poucas aliadas do regime norte-coreano.
O Departamento de Estado americano disse que o embaixador dos EUA em Pequim, Nicholas Burns, encontrou-se com King em Dandong, cidade que faz fronteira com a Coreia do Norte. King então voou para a cidade chinesa de Shenyang e, depois, para a base aérea de Osan, na Coreia do Sul, antes de voltar aos EUA.
King, que se juntou ao Exército dos EUA em janeiro de 2021 e havia sido designado para a Coreia do Sul como membro da Equipe de Combate da Primeira Brigada, Primeira Divisão Blindada. Antes de cruzar a fronteira ao Norte, King já havia sido fichado pelas autoridades sul-coreanas e chegou a se declarar culpado de agressão e de destruição de bens públicos, em crimes que ocorreram no ano passado.
Em fevereiro, um tribunal de Seul ainda determinou que o americano pagasse multa no valor de 5 milhões de wons (R$ 19,2 mil) pelos crimes. Segundo a corte, King deu vários socos no rosto de um homem durante uma festa numa boate em setembro passado. Duas semanas depois, os policiais tentaram interrogá-lo, mas o homem voltou a manifestar comportamentos agressivos.
King não respondeu às perguntas dos agentes, que o levaram à força para o banco de trás de uma viatura. O americano, então, teria reagido com palavrões e insultos contra a população, o Exército e a polícia locais. Durante o ataque de fúria, chutou a porta do veículo várias vezes, causando danos avaliados em 584 mil wons (R$ 2.000). Se voltasse aos EUA, King deveria sofrer represálias disciplinares.
Em julho, King havia terminado de cumprir a detenção militar e estava no aeroporto aguardando transporte para sua unidade militar nos Estados Unidos. Mas ele deixou o local e se juntou em um passeio pela área fronteiriça, onde decidiu invadir a Coreia do Norte e acabou preso.