O líder do PP (Partido Popular), Alberto Núñes Feijóo, perdeu nesta quarta-feira (27) sua primeira chance de se tornar o próximo primeiro-ministro da Espanha. A votação por sua investidura, após dois dias de debate, foi de 172 a favor e 178 contra. Não houve abstenções.
Feijóo precisava da maioria absoluta do Congresso de 350 deputados, ou seja, 176 votos, metade mais um. Mas o PP, que venceu as eleições de 23 de junho, conseguiu apenas 137 deputados. O partido de ultradireita Vox se aliou aos conservadores, garantindo mais 33 votos. Por fim, a Coligação Canárias e a UPN deram um voto cada um.
O PP terá uma nova chance na próxima sexta (29), quando os deputados votarão de novo, e o cargo de premiê poderá ser conquistado por Feijóo se for atingida maioria simples, sem incluir possíveis abstenções. Caso perca novamente, o atual primeiro-ministro, Pedro Sánchez, do PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol), poderá ter sua chance no mês que vem.
A derrota de Feijóo pode ser creditada à decisão de não se associar a partidos separatistas, um conceito caro aos políticos do PP. O Junts, sigla catalã com sete votos, que poderia ter dado a vitória ao conservador, exigiu uma anistia para seus membros.
Vários integrantes do Junts são atualmente processados pela Justiça por uma tentativa de separação da Catalunha em 2017. Sánchez, por sua vez, está em negociações para que a anistia aconteça.
Na manhã desta quarta, quatro dos nove grupos parlamentares fizeram suas intervenções, às quais foram respondidas por Feijóo. Cinco deles já o haviam feito nesta terça (26). Os dois primeiros do dia foram grupos bascos. Mertxe Aizpurua, do El Bildu, começou pelo que interessa: “Daremos um sonoro não à sua investidura”, disse ela. São seis votos do partido.
Para Aitor Esteban, do PNV, que representava cinco votos, a conta era simples: “Para somar os nossos votos, ou os do Junts, você teria que subtrair os 33 votos do Vox”.
No grupo misto, em que três partidos se manifestaram, Feijóo garantiu os votos da Coligação Canárias e da UPN, mas ambos são partidos com um único deputado.
Por fim, o próprio Partido Popular, por meio da porta-voz Cuca Gamarra (PP), subiu à tribuna. Ela questionou diretamente o presidente em exercício, Pedro Sánchez. “Se a anistia foi boa, por que não foi incluída no programa eleitoral?”
Na terça, o primeiro grupo que se manifestou foi o do PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol). Seu líder, Pedro Sánchez, que comanda o país desde 2018, estava presente, mas preferiu não subir à tribuna. Segundo o atual premiê, a investidura de Feijóo era “perda de tempo”, já que a matemática para alcançar maioria absoluta (na votação da quarta-feira) ou simples (na votação de sexta-feira) não estava do lado do PP.
Sua ausência na tribuna, porém, foi considerada uma falta de respeito sem precedentes pelos deputados do PP. Já o PSOE informou que Sánchez só falará em sua própria investidura, o que poderá acontecer em outubro, caso Feijóo de fato não saia vitorioso nesta semana.
Em seu lugar, o primeiro-ministro enviou Òscar Puente, ex-prefeito de Valladolid. “Por que você tem mais direito de ser presidente [do governo] do que eu de ser prefeito da minha cidade? Nem você nem eu ganhamos as eleições”, provocou Puente, dirigindo-se a Feijóo, enquanto Sánchez ria.
Em seguida, foi a vez do Vox, o partido de ultradireita que é ao mesmo tempo fiador e pesadelo de Feijóo. Por meses, o líder do PP tem dito que discorda de muitas ideias da sigla, como sua política anti-imigração, o que repetiu na tribuna. O líder do Vox, Santiago Abascal, relevou as críticas e reforçou na tribuna seu apoio ao PP, expressando a esperança de que as duas siglas governem a Espanha nos próximos quatro anos.
Depois disso, quase todas as falas foram desfavoráveis a Feijóo. Duas parlamentares do Sumar, o grupo de pequenas legendas de esquerda que é aliado de primeira hora do PSOE, disseram que ele nunca seria premiê.
“Sua aliança com a extrema direita o separa do país que afirma representar”, disse a deputada Marta Lois. Após a réplica de Feijóo, outra deputada, Aina Vidal, assumiu a tréplica. “Numa investidura há negociação. Você não renunciou a nada porque não tem nada”, disse.
O quarto grupo parlamentar a falar foi o ERC (Esquerda Republicana da Catalunha), cujo porta-voz, Gabriel Rufián, afirmou: “Por mais que o senhor [Feijóo] repita que ganhou as eleições, a realidade é que não pode governar”.
O Junts, partido cujos líderes pedem anistia devido à tentativa de separação da Catalunha em 2017, foi o último a se manifestar. “Precisamos de um acordo histórico como não houve desde a queda de Barcelona em 1714. Hoje não existem condições para chegar a esse acordo”, disse a porta-voz da legenda, Míriam Nogueras.
Feijóo respondeu de novo praticamente assumindo que sua investidura será fracassada: “Prefiro adiar a minha vitória para que seja também a vitória de todos os espanhóis”, disse, mais de nove horas depois do início do debate.