A primeira coisa que eu fiz ao me preparar para escrever esta coluna sobre o processo antitruste que os Estados Unidos acabam de mover contra o Google, acusando-o de práticas comerciais anticompetitivas e ilegais, foi… pesquisar no Google.
Ao fazê-lo, descobri que as leis antitruste foram concebidas para proteger o item essencial para que um mercado funcione adequadamente: a concorrência! Essa garante que a melhor ideia ou produto vença, em vez de uma entidade se tornar grande demais e controlar um setor inteiro, deixando os clientes e o progresso à sua mercê.
Então pesquisei no Google: “Quem são os concorrentes do Google?” Depois do Google, a máquina de buscas número dois é, na verdade, tecnicamente o YouTube! Que é de propriedade do Google. Hum…
O próximo é o Bing, e depois de pesquisar “Que porra é o Bing?” comecei a entender o que o Departamento de Justiça queria dizer. Os principais casos antitruste dos EUA surgiram a cada era tecnológica, e os especialistas dizem que tais casos, como os contra a Standard Oil, a AT&T e a Microsoft, abriram espaço para inovações globalmente significativas, incluindo a gasolina, os smartphones e até a própria internet.
Sendo este o maior caso desse tipo na história da internet, é tão importante nós ficarmos de olho nele quanto o meu caso contra a Hasbro por ser a única empresa a vender o jogo… Monopoly.
O Departamento de Justiça alega que os bilhões de dólares do Google em pagamentos anuais à Apple e a navegadores da web para ser o mecanismo de pesquisa padrão em quase todos os dispositivos e navegadores (conquistando uma participação de mercado de 90%) impedem explicitamente que os concorrentes tenham uma chance justa nesse espaço.
O Google também tem acordos de divisão de receitas de anúncios em troca de posicionamento padrão. Alguns chamam isso de “capitalismo de compadrio”, em que as grandes empresas compartilham os despojos desse monopólio. Como quando minha mulher pagou pelo hotel Copacabana da minha sobrinha em troca da Companhia Ferroviária no Monopoly. Como ela pôde fazer isso com uma peça de cachorro tão bonitinha?! Seu relacionamento com um cachorro também leva a outras perguntas sobre seu caráter!
O Google afirma que seu domínio do mercado não é por causa desses pagamentos, mas porque seu produto é muito bom! Da forma como essas leis estão estruturadas, o Google tem de provar que fornece um produto de tão alta qualidade que justifique sua gigantesca fatia do mercado.
Então pesquisei no Google “O Google é bom?”, e o Google me disse: sim! Todos os principais resultados de pesquisa garantiram que eles fornecem um serviço superior a outros mecanismos, e nem perdi tempo citando o nome dos concorrentes!
Minha busca também disse que as ações do Google são uma compra inteligente! Não vi nenhuma crítica sobre a diminuição da qualidade das pesquisas, seus resultados cheios de anúncios (muitas vezes dos próprios produtos do Google) ou acusações às práticas de coletar dados privados dos usuários ou manipular pesquisas em seu favor. Curiosamente, vi muitas dessas críticas quando pesquisei no Bing. Obviamente, um sinal dos resultados de pesquisa inferiores do Bing.
Foi descoberto que executivos do Google, incluindo seu CEO, destruíram ilegalmente em vários casos evidências relacionadas a possíveis violações antitruste, deletando registros de conversas. Eles foram sancionados por esse motivo na Califórnia, mas, infelizmente, até agora o juiz Amit Mehta não o fez neste caso. Talvez Mehta queira “bingar” isso.
Além da importância da concorrência, o fato de o Google ser uma empresa tão poderosa que literalmente controla nosso fluxo de informação, com acesso sem precedentes aos nossos dados, faz com que conter sua onipresença pareça um imperativo social. Além disso, com o advento da incógnita sobre como esse poder irá interagir com a inteligência artificial, este é um momento crucial na história.
Espero que o juiz Mehta o examine com a mesma perspectiva histórica. Só espero que ele não pesquise no Google…
Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves
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