O enviado especial da China para a mudança do clima, Xie Zhenhua, revelou na última quinta (21), durante evento no think tank Centro para a China e a Globalização, em Pequim, que propôs ao seu homólogo americano, John Kerry, viajar aos Estados Unidos para um encontro.
A proposta mostra que, também por parte da China, os sinais de distensão com Washington na chamada Guerra Fria 2.0 se aceleraram. Xie disse que conversa a cada duas semanas, por vídeo, com Kerry. Na plateia estava o embaixador dos EUA na China, Nicholas Burns.
Do lado americano, a aproximação se intensificou na semana passada com a realização de vários encontros entre diplomatas e o “tom contido” sobre Pequim adotado pelo presidente Joe Biden em seu discurso na Assembleia-Geral da ONU, segundo o especialista em China do think tank Brookings, de Washington, Ryan Hass.
A carta enviada por Xi Jinping na última terça (19) para aviadores americanos que participaram da luta contra a invasão japonesa na Segunda Guerra Mundial (1939-1945) corroborou a aproximação. No documento, o líder chinês enfatizou as “responsabilidades mundiais” de Washington e de Pequim —e, por outro lado, cobrou respeito mútuo.
Na sexta (22), o Ministério das Finanças e o Banco Popular da China (banco central) soltaram um comunicado, e o Departamento do Tesouro dos EUA divulgou outro, ambos anunciando a formação de um grupo de trabalho bilateral para tratar de questões econômicas e financeiras.
Eles terão reuniões regulares para, segundo a chinesa CCTV, responder à expectativa internacional por maior coordenação entre Washington e Pequim, visando estabilizar mercados. A rede estatal adiantou que haverá divergências, por exemplo, quanto às “sanções unilaterais” dos EUA.
Também nesta semana, o líder democrata no Senado, Chuck Schumer, divulgou que pretende liderar com o republicano Mike Drapo uma delegação de senadores que deve viajar em outubro a Pequim. O deputado democrata Ro Khanna informou que está tentando organizar um grupo semelhante na Câmara.
O Ministério Chinês do Exterior, em nota, respondeu às iniciativas dizendo que o país dá “as boas-vindas a pessoas de todas as esferas da vida nos Estados Unidos, incluindo membros do Congresso, para um maior entendimento da China, promover intercâmbio e injetar mais energia positiva na relação China-EUA”.
As eventuais visitas de autoridades chinesas a Washington, não só Xie Zhenhua, mas o chanceler Wang Yi, esperado em outubro, segundo Hass, reforçariam as chances de que Xi Jinping viaje em novembro a San Francisco para a cúpula da Apec (Cooperação Econômica Ásia-Pacífico).
Biden e Xi retomariam então as conversas para a convivência entre as duas potências no pós-pandemia, que foram inviabilizadas pelo suposto balão espião chinês, derrubado no dia 4 de fevereiro nos EUA. Balão que, afirmou o governo americano há uma semana, não espionava o país.
A semana havia começado com dois dias de conversas entre Wang e o assessor de Segurança Nacional de Biden, Jake Sullivan, em que o chanceler, segundo nota, “enfatizou que a questão de Taiwan é a primeira linha vermelha que não deve ser ultrapassada na relação China-EUA”.
Também que Washington precisa “honrar seu compromisso de não apoiar a ‘independência de Taiwan'”, ilha considerada uma província rebelde por Pequim. A resposta americana já estava a caminho, com a visita do principal candidato de oposição na eleição taiwanesa de janeiro próximo.
Hou Yu-ih, do partido opositor Kuomintang (KMT), encerrou na sexta sua viagem de oito dias pelos EUA, que incluiu encontros com o prefeito democrata de Nova York, Eric Adams, e congressistas republicanos, além de recepção nos think tanks Council on Foreign Relations e Brookings —onde foi saudado por Hass.
Na segunda (18), a revista Foreign Affairs, maior referência para o establishment americano de política externa, publicou extenso artigo de Hou, com seu “plano para evitar a guerra”, inclusive “diálogo” com a China. O KMT, antes o principal rival, é hoje o partido mais alinhado a Pequim.
A extensa programação de Hou contrastou com a passagem rápida pelos EUA de seu grande oponente, Lai Ching-te, do Partido Democrático Progressista, um mês antes. Hoje vice-presidente, ele é o candidato mais propenso a levar à ilha da independência, embora venha atenuando sua promessa.