Congressistas de esquerda dos Estados Unidos apresentaram nesta quinta-feira (21) uma resolução que pede desculpas pelo papel de Washington no golpe de Estado no Chile, em 1973. A ruptura, que completou 50 anos no último dia 11, foi apoiada pelo país norte-americano e iniciou a violenta ditadura de 17 anos do general Augusto Pinochet.
O documento, apresentado na véspera da chegada a Washington do presidente chileno, Gabriel Boric, não exige a assinatura do presidente nem tem força de lei. Chamado de “resolução simultânea”, esse tipo de texto é usado para expressar ideias do Senado e da Câmara e deve ser aprovado em ambas as Casas.
Assinado por um dos principais líderes da esquerda americana, o senador independente Bernie Sanders, o documento manifesta “profundo pesar pela contribuição dos EUA na desestabilização das instituições políticas do Chile” e pede ao governo mais transparência a documentos da época.
Além de Sanders, outros oito congressistas apoiaram a apresentação do documento. Entre eles está a deputada democrata Alexandria Ocasio-Cortez, estrela da esquerda norte-americana. Em agosto, ela integrou uma comitiva que visitou Brasil, Colômbia e Chile, em um esforço para revitalizar a relação entre os EUA e a América Latina.
“O legado do envolvimento americano na região pairou sobre nossa viagem, mas também havia uma real disposição para construir um relacionamento com os EUA que vá além da Guerra Fria“, afirmou a deputada, de acordo com o site de Sanders.
“Se os EUA estão realmente comprometidos com a construção de uma relação de confiança com a América Latina, precisamos ser honestos sobre nosso passado. Precisamos ajudar o Chile a se curar, fornecendo o máximo de transparência possível sobre o golpe de 1973 —e nosso papel na ascensão de Pinochet”, continuou AOC, como a democrata é conhecida.
Nas últimas semanas, a pedido do Chile, o Departamento de Estado americano tornou públicos relatórios enviados ao então presidente dos EUA, Richard Nixon, horas antes do golpe de Estado no Chile. Os congressistas, porém, avaliam que Biden deve ir além e tirar o sigilo de outros arquivos.
“A plena prestação de contas requer (…) a retirada do sigilo do restante dos registros dos EUA relacionados aos eventos de antes, durante e depois do golpe militar de 50 anos atrás”, diz a resolução.
Arquivos revelados em 2020 mostram que, durante uma reunião de 20 minutos, Nixon deu ordens para impedir que seu homólogo do Chile, Salvador Allende, assumisse o poder.
Outros documentos que tiveram o sigilo suspenso nos últimos anos revelaram que Nixon atuou para atrapalhar a economia chilena e que o então assessor de Segurança Nacional, Henry Kissinger, chegou a afirmar que gostaria de ajudar Pinochet, não prejudicá-lo. ‘‘Você prestou um ótimo serviço ao Ocidente na derrubada de Allende”, disse ele.
Prestes a completar três anos no poder e sob intensa pressão, o presidente chileno estava disposto a convocar um plebiscito para tentar sair da profunda crise política e econômica que o país vivia, mas foi deposto pelas Forças Armadas lideradas por Pinochet. O regime do general seria responsável por milhares de mortes, desaparecimentos e casos de tortura.
“Devemos deixar claro que lamentamos nossa participação e nos comprometemos a apoiar a democracia chilena”, afirma Sanders, em nota. A resolução também parabeniza os chilenos pela “reconstrução de uma democracia forte e resiliente” e expressa o compromisso do Congresso americano em participar dos esforços para esclarecer a verdade.