Após o rumoroso desencontro entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e seu homólogo ucraniano, Volodimir Zelenski, às margens da cúpula do G7 em Hiroshima em maio passado, a Assembleia-Geral da ONU que ocorre nesta semana em Nova York abriu mais uma janela de oportunidade para uma bilateral.
O líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), afirmou que há um pedido formal de encontro entre os presidentes, duas das figuras mais aguardadas nesta edição do encontro de líderes das Nações Unidas, e que ofereceu duas opções de data. Questionada se houve uma resposta, a assessoria de imprensa do Planalto disse que não tinha informações sobre essa negociação.
A equipe de política externa do governo diz que há mais de 50 pedidos de encontros bilaterais com outros presidentes e primeiros-ministros e de participação em eventos para Lula às margens da ONU.
Na ocasião da cúpula do G7, na qual tanto Lula quanto Zelenski foram como convidados, havia ampla expectativa de um encontro, a despeito de declarações do petista criticadas por ucranianos por supostamente diminuir a parcela de culpa de Moscou na Guerra da Ucrânia.
Quando o encontro não ocorreu, o governo brasileiro afirmou que Zelenski “simplesmente não apareceu” e que três horários haviam sido sugeridos. Fontes do Planalto tentaram, porém, minimizar a importância de Lula não ter se reunido com Zelenski à época.
O ucraniano, na ocasião, teve conversas com o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi —outro líder de um país do Sul Global que, como o Brasil, vem tentando manter neutralidade na guerra.
Depois, em uma entrevista em Kiev à Folha e a outros veículos de imprensa da América Latina, o presidente ucraniano deu versão distinta do episódio. Segundo Zelenski, o desencontro no Japão não foi culpa da Ucrânia.
Durante a conversa, ele também alfinetou o petista pela falta de apoio para a criação de um tribunal especial internacional que julgue crimes de agressão na guerra e disse que o líder brasileiro quer ser “original” em suas propostas.
Nesse meio-tempo, entre o desencontro no G7 e a Assembleia-Geral da ONU, o chanceler brasileiro, Mauro Vieira, conversou com seu homólogo ucraniano, Dmitro Kuleba, por telefone na última semana.
Lula também voltou a dar declarações criticadas em áreas que envolvem a guerra. O brasileiro disse desconhecer o Tribunal Penal Internacional (TPI), instância que emitiu um mandado de prisão contra o presidente russo, Vladimir Putin, por apoio à deportação ilegal de crianças ucranianas para a Rússia durante a guerra.
Ele também afirmou durante conversa com uma emissora da Índia que, caso Putin viesse ao Brasil para a cúpula do G20 em 2024, ele não seria preso, o que contraria os compromissos assumidos por Brasília com o Tribunal de Haia, como o TPI é conhecido, ao assinar o Estatuto de Roma, seu documento fundador.
Nesta segunda, Lula tem dois encontros bilaterais. Às 12h (horário de Brasília), ele conversa com o presidente da Suíça, Alain Berset. Em seguida, o petista encontra o ex-primeiro-ministro britânico Gordon Brown. Do partido trabalhista, Brown comandou o Reino Unido entre 2007 e 2010. Atualmente, ele é enviado especial da ONU para educação.
Na noite de domingo, Lula participou de uma reunião e um jantar com empresários e investidores oferecido pela Fiesp no restaurante Fasano em Nova York. Ao sair do hotel para o evento, o presidente foi hostilizado por uma mulher que vestia a camisa da seleção brasileira. Ela chamou o petista de ladrão e comunista.
Segundo o Planalto, participaram da reunião os ministros Fernando Haddad (Fazenda), Mauro Vieira (Relações Exteriores) e Luiz Marinho (Trabalho). Também estavam os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Do setor privado estavam a Chevron e os fundos Apollo, Growth Capital, Valor Capital, Brookfield, Blackrock, Mubadala Brazil, GIP, Neuberger, Qell, Claure Group e Citibank. A embaixadora do Brasil nos EUA, Maria Luiza Viotti, e o presidente do BID, Ilan Goldfajn, e um enviado especial da Arábia Saudita também estavam presentes.