A ex-presidente Dilma Rousseff, (PT) última líder brasileira a viajar a Cuba antes da atual visita de Lula (PT), teve uma passagem pela ilha em 2014 marcada pela inauguração do porto de Mariel, quando também foi questionada sobre os investimentos milionários do Brasil na ilha.
Dilma esteve em Cuba em janeiro daquele ano. Ela ainda participou da cúpula da Celac (Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos).
O principal evento daquela viagem foi a inauguração de Mariel, porto a cerca de 40 quilômetros de Havana e cuja modernização foi possibilitada via empréstimo do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
Cuba deixou de pagar o Brasil por essa operação, e Mariel representa hoje a maior parte da dívida de US$ 538 milhões (R$ 2,6 bilhões) de Havana com Brasília.
Em janeiro de 2014, o porto já era um tema controverso e vinha sendo explorado pela oposição ao PT.
Pouco depois da inauguração, o então senador Aécio Neves (PSDB-MG) —hoje deputado federal— ironizou a cerimônia.
“Finalmente a presidente Dilma inaugurou a primeira grande obra de seu governo, pena que em Cuba”, disse Aécio na ocasião.
Ele viria a enfrentar Dilma na eleição presidencial daquele ano, sendo derrotado pela petista. O porto foi um dos temas que a oposição colocou em pauta na campanha.
Durante a viagem de Dilma, ela justificou o investimento. Negou que o Brasil estivesse concedendo crédito para melhorar a infraestrutura em Cuba, em detrimento de obras no Brasil.
“Nós continuamos fazendo investimentos no Brasil na área de portos. O Brasil financiou o porto de Mariel, mas quem forneceu bens e serviços foram empresas brasileiras. Isso leva ao fortalecimento dos países. É um processo de ganha-ganha. Cuba ganha e o Brasil também ganha.”, afirmou na ocasião.
Antes daquela viagem, Dilma havia visitado Cuba como presidente em 2012.
As relações entre Cuba e Brasil foram retomadas em 1985 pelo então presidente José Sarney, após a ditadura militar ter rompido com o regime à época liderado por Fidel Castro.
Em 1999, Fernando Henrique Cardoso (PSDB) tornou-se o primeiro presidente brasileiro a visitar a ilha após a retomada das relações. Ele participou de uma conferência ibero-americana.
A chega de Lula ao poder em 2003 intensificou as relações e as colocaram em outro patamar.
Além de defender um estreitamento de laços comerciais, o petista tem uma relação pessoal com regime e foi amigo de Fidel.
Lula foi a Cuba logo no seu primeiro ano de mandato, em setembro de 2003. Depois, voltou duas vezes em 2008. E novamente em 2010.
Na última passagem de Lula no segundo mandato, o chefe do Executivo encontrou o líder revolucionário e amigo por mais de duas horas. À época, Fidel já estava afastado do poder e o governo era liderado por seu irmão, Raúl Castro.
Nove anos depois da passagem de Dilma pelo país caribenho, Mariel segue um assunto presente na agenda dos dois países —mas, desta vez, sob uma perspectiva negativa.
Como a Folha revelou, autoridades cubanas já avisaram ao governo Lula que, no momento, não têm como retomar o pagamento da dívida em atraso. Diante disso, os países devem se debruçar sobre um processo de renegociação.
Auxiliares de Lula, no entanto, minimizam o tema e dizem que a dívida não deve ser central na conversa entre Lula e o líder cubano Miguel Díaz-Canel.
Autoridades brasileiras e diplomatas destacam o simbolismo do retorno de um chefe do Executivo ao país e dizem que a dívida passará a ser discutida em nível técnico, num momento mais adiante.
Lula encontra Díaz-Canel na tarde deste sábado (16) e, em seguida, embarca para Nova York. Nos Estados Unidos, ele participará da abertura da Assembleia-Geral da ONU.
O encontro é o segundo entre Lula e Díaz-Canel neste ano. O último foi em Paris, em junho.
Mais cedo, Lula participou da cúpula do G77 + China, coalizão de países em desenvolvimento.
O mandatário, que foi o primeiro a falar, utilizou seu discurso para fazer mais um gesto aos cubanos e criticar o embargo econômico americano contra o regime, condenando ainda a inclusão da ilha na lista dos Estados Unidos de estados patrocinadores do terrorismo.