O pai da jovem curda Mahsa Amini, cuja morte, há um ano, despertou uma onda de protestos contra o regime do Irã, teria sido detido pela polícia local e pressionado a não mais incentivar protestos, disse neste sábado (16) um grupo de ativistas à agência Reuters.
Segundo a Rede de Direitos Humanos do Curdistão —Mahsa Amini era curda—, Amjad foi detido e depois liberado durante atos que marcam a morte da jovem enquanto estava sob custódia da polícia em Teerã por supostamente não usar o véu islâmico da forma considerada correta.
A rede afirma ainda que as ameaças contra o pai de Mahsa Amini têm se tornado frequentes. Em uma nota em seu site oficial, diz que Amjad foi convocado e interrogado pelo Ministério de Inteligência em Saqqez, na província do Curdistão, quatro vezes ao longo das últimas duas semanas. Segundo o relato, ele teria sido pressionado a desincentivar planos de protestos no marco de um ano da morte da filha.
Antes, ele e a esposa haviam compartilhado uma mensagem nas redes sociais afirmando que reuniriam a família no túmulo da filha no aniversário “de seu martírio” para cerimônias tradicionais e religiosas.
Ainda de acordo com a rede de ativistas, o regime teocrático teria dito que poderia deter o outro filho do casal, Ashkan, irmão de Mahsa, caso esses planos fossem colocados em prática.
A morte de Mahsa Amini em 15 de setembro de 2022 foi estopim para uma das maiores ondas de protestos no Irã nas últimas décadas. Os atos desafiaram o regime presidido por Ebrahim Raisi e liderado pelo aiatolá Ali Khamenei, que respondeu com repressão.
A ONU criticou a resposta oficial, e especialistas independentes disseram que o regime usava o episódio como desculpa para oficializar a prática de violência contra as mulheres. O regime, por sua vez, culpou o que chama de vândalos pelos protestos e disse que a insatisfação era uma resposta às sanções internacionais.
A resposta internacional segue um ano após a morte. O governo do Reino Unido, por exemplo, anunciou nesta sexta-feira (15) sanções contra várias autoridades iranianas descritas como “responsáveis pelo planejamento e pela aplicação da lei sobre o uso obrigatório do hijab”.
A ação foi coordenada com Estados Unidos, Canadá e Austrália e atinge figuras como o ministro da Cultura iraniano, Mohamad Mehdi Esmaili, e seu vice, Mohamad Hashemi, além do prefeito da capital Teerã, Alireza Zakani, e o porta-voz da polícia Saed Montazer Al Mahdi.
Em nota, o chanceler britânico, James Clevery, disse que as sanções “enviam uma mensagem clara de que Londres e seus parceiros seguem apoiando as mulheres iranianas”. Ele também saudou “a bravura das mulheres iranianas que lutam pelas liberdades fundamentais”.
Em resposta, o porta-voz da chancelaria iraniana chamou as ações de “ilegais, pouco diplomáticas, ridículas e hipócritas”, afirmando que as sanções são uma maneira de intervenção na política doméstica e que, com isso, a diplomacia ocidental mostra um comportamento “pouco construtivo”.
O presidente dos EUA, Joe Biden, disse que os manifestantes iranianos protestam por “democracia e dignidade humana básica” e que seu governo “seguirá fornecendo ferramentas para apoiar a capacidade dos iranianos de defenderem o seu próprio futuro”.
Nos protestos que se seguiram à morte de Amini, mais de 500 pessoas, incluindo 71 menores de idade, foram mortas, centenas ficaram feridas e milhares foram presas, segundo grupos de defesa dos direitos humanos. O Irã realizou sete execuções ligadas aos atos.
Num relatório publicado no mês passado, a ONG Anistia Internacional afirmou que as autoridades iranianas “têm submetido as famílias das vítimas a prisões e detenções arbitrárias, impondo restrições cruéis às reuniões pacíficas em túmulos e destruindo as lápides das vítimas”.