Militares da Coreia do Sul dispararam tiros de advertência depois que cerca de 20 soldados norte-coreanos cruzaram brevemente a fronteira no último fim de semana, disseram autoridades de Seul nesta terça-feira (11).
A violação ocorreu por volta das 12h30 locais do domingo (madrugada do mesmo dia no Brasil), quando tropas norte-coreanas na zona desmilitarizada que separa as duas Coreias cruzaram a linha de demarcação, disse o Estado-Maior Conjunto da Coreia do Sul.
O porta-voz do órgão, o coronel Lee Sung-jun, disse que o Exército não considerou a violação intencional. Segundo ele, a área é densamente arborizada, o que pode ter prejudicado a visualização das marcações de fronteira ou de estradas. “Eles se dirigiram para o norte imediatamente após a advertência”, disse o militar em uma entrevista coletiva.
Citando um militar que falou sob condição de anonimato, a agência de notícias Yonhap afirmou que as tropas estavam carregando picaretas e outras ferramentas e pareciam ter se perdido. O Exército sul-coreano já disparou tiros de advertência contra soldados norte-coreanos, mas a maioria desses casos aconteceu na fronteira marítima que Pyongyang contesta.
O incidente ocorre em meio a tensões na fronteira —nas últimas duas semanas, milhares de balões sobrevoaram a península levando principalmente lixo para o sul e panfletos anti-Pyongyang e dinheiro para o norte.
Os embates começaram no fim de maio, quando a Coreia do Norte mandou balões com lixo e esterco ao Sul. Segundo o regime, a medida foi uma reação a ativistas sul-coreanos, que costumam enviar panfletos políticos, dinheiro e remédios por meio de infláveis que atravessam a fronteira.
As provocações se estenderam ao longo das semanas seguintes —enquanto Pyongyang enviava mais balões, o Sul chegou a ligar alto-falantes na fronteira para transmitir propaganda política, o que Kim Yo-jong, a influente irmã do líder norte-coreano, considerou uma “guerra psicológica”.
Em meio às hostilidades, o Fighters For Free North Korea (Combatentes pela Coreia do Norte Livre) desafiou Pyongyang ao enviar dez balões carregando 200 mil panfletos, 2.000 notas de um dólar e 5.000 pen drives com músicas do gênero musical k-pop e dramas coreanos. O grupo de ativistas da Coreia do Sul é conhecido por esse tipo de ação, que remonta aos primeiros anos pós-Guerra da Coreia (1950-1953).
A consequência mais séria da tensão até agora foi a interrupção de um acordo militar entre as duas Coreias. Na semana passada, o presidente sul-coreano, Yoon Suk-yeol, anunciou que iria suspender o texto assinado nas históricas reuniões entre os dois países em 2018.
O acordo pretendia reduzir as tensões e evitar uma escalada militar entre os dois países, em armistício desde o fim do conflito que dividiu a península, em 1953. O pacto, porém, já estava debilitado —no ano passado, Seul o suspendeu parcialmente quando a Coreia do Norte colocou um satélite espião em órbita, ao que o regime de Kim Jong-un respondeu com completo rompimento.