O novo primeiro-ministro interino do Haiti, Garry Conille, 58, afirmou, durante sua posse nesta segunda-feira (3) que os membros da nova administração estão deixando de lado suas diferenças para trabalhar pelo país, que enfrenta uma grave crise de segurança causada pelo conflito entre gangues.
“Estamos passando por um momento interessante para o povo haitiano —um momento em que grupos políticos deixam de lado suas diferenças pelo interesse da nação”, disse ele no evento na Villa d’Accueil, edifício oficial do governo na capital, Porto Príncipe. “A primeira instrução dada pelos membros do conselho de transição foi que não temos tempo a perder.”
Na terça-feira passada (28), o órgão escolheu o ex-diretor regional do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) e chefe do governo entre 2011 e 2012, quando perdeu o apoio de seu gabinete ao entrar em conflito com o então presidente, para retornar ao poder.
A votação aconteceu mais de um mês depois da posse do conselho de nove membros e quase três meses após seu antecessor, Ariel Henry, renunciar.
Henry, por sua vez, havia sido nomeado ao cargo pelo então presidente Jovenel Moïse, assassinado em 2021. O ex-premiê foi acusado pela Procuradoria-Geral de ter participado do crime que matou o último presidente que o Haiti teve.
O contexto da posse mostra os desafios do novo premiê. Conille terá a missão de combater a dramática insegurança que atinge o país em meio ao fortalecimento das gangues.
A crise fechou portos importantes, interrompeu o fornecimento de alimentos, medicamentos e ajuda, intensificando uma crise alimentar que mergulhou milhões na fome, e fez mais de 360 mil pessoas se deslocarem internamente, segundo estimativas da ONU.
“Contamos com o Conille para aplicar as políticas acordadas com o conselho presidencial, com o objetivo de abordar o problema da insegurança em particular, assim como para melhorar a economia do país, reformar suas instituições e realizar eleições confiáveis, democráticas e livres para o fim de 2025”, afirmou Edgard Leblanc Fils, presidente do conselho criado após a renúncia de Henry.
“Que comecemos a trabalhar. Garanto a vocês que cumpriremos o prometido”, afirmou Conille. Segundo o político, a primeira reunião do conselho, composto por vários partidos políticos e setores da sociedade que se desentenderam nos últimos meses, foi amigável. Ele disse, porém, não ter ilusões de que “as coisas serão fáceis”.
O representante do setor empresarial, Laurent Saint-Cyr, que não participou da votação para eleger Conille por estar no exterior, não estava presente na posse.
A próxima tarefa do novo premiê será escolher o novo gabinete e abrir caminho para a primeira implantação da nova missão de segurança apoiada pela ONU e liderada pelo Quênia. A missão, prevista para durar inicialmente um ano a partir da data de sua aprovação pelo Conselho de Segurança da ONU, em outubro, já tem sete meses de atraso.