Um novo ataque israelense contra uma zona humanitária na cidade de Rafah nesta terça-feira (28) deixou 21 mortos, de acordo com autoridades de saúde da Faixa de Gaza, controlada pelo Hamas. Israel negou a autoria do bombardeio, que teria sido realizado com tanques —testemunhas ouvidas pela CNN e pela agência de notícias Reuters disseram ter visto blindados avançando contra o centro de Rafah.
Serviços de emergência de Gaza disseram que quatro projéteis disparados por tanques atingiram tendas de deslocados internos em Al-Mawasi, uma área que tinha sido definida como segura e para onde Israel disse que palestinos deveriam fugir antes de uma invasão da cidade de Rafah, no sul.
De acordo com a ONU, mais de 1 milhão de pessoas já deixaram a cidade, para onde a grande maioria da população da Faixa de Gaza havia fugido desde o início do conflito atual. O deslocamento agrava a crise humanitária no território, onde a maior parte da população convive com a insegurança alimentar e mais de 1 milhão passam fome.
De acordo com as autoridades palestinas, 12 dos 21 mortos no ataque desta terça eram mulheres. As Forças Armadas israelenses disseram que não conduziram operações nessa área, mas não comentaram os relatos sobre a presença de tanques em Rafah. Com os ataques, Israel desafia uma ordem da CIJ (Corte Internacional de Justiça) que determinou a interrupção da ofensiva militar terrestre na cidade.
No domingo, um bombardeio de Tel Aviv em outra zona humanitária designada pelo próprio exército de Israel matou 45 pessoas e causou indignação na comunidade internacional. Os Estados Unidos, principal aliado e responsável por maior parte do apoio militar recebido pelo país, disseram que “comunicaram ao governo israelense” preocupação a respeito do ataque.
Tel Aviv disse nesta terça que investiga a possibilidade de que as mortes do domingo foram, na verdade, causadas por um incêndio que se seguiu ao bombardeio israelense. Um porta-voz das Forças Armadas afirmou que as armas usadas por Israel nesse ataque não seriam capazes de causar tanto dano, e que é possível que elas tenham atingido um depósito de munições no campo de deslocados e desencadeado o incêndio.
O bombardeio no domingo elevou ainda mais a pressão e o isolamento de Israel entre a comunidade internacional, fenômeno que vem aumentando a medida que a campanha militar de Tel Aviv tira mais vidas e piora a crise humanitária na Faixa de Gaza —36 mil pessoas foram mortos em ataques israelenses desde 7 de outubro, quando a invasão do Hamas deixou 1.200 israelenses mortos.
Nesta terça, Espanha, Irlanda e Noruega oficializaram seu reconhecimento ao Estado da Palestina, uma medida anunciada na última quinta-feira (23) e rejeitada veementemente por Israel. Mais de 140 países, incluindo o Brasil, já reconhecem a Palestina.
Em retaliação, o chanceler israelense, Israel Katz, afirmou que o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez é cúmplice do assassinato do povo judeu. Na segunda, ele havia determinado que o consulado da Espanha em Jerusalém interrompa o atendimento a palestinos que vivem na Cisjordânia ocupada.
A vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, disse que chamar o que aconteceu no domingo de trágico “nem sequer começa a descrever” o ocorrido. O premiê israelense, Binyamin Netanyahu, tinha dito que as mortes de civis foram “um acidente trágico”.
O governo Joe Biden, entretanto, disse que o ataque não constitui uma operação em larga escala, uma ação que a Casa Branca já afirmou repetidas vezes ser contra. O porta-voz John Kirby disse ainda que nada do que aconteceu nos últimos dias vai mudar a política americana de apoio militar e diplomático a Israel.
Biden chegou a suspender temporariamente o envio de bombas ao aliado, dizendo que havia risco que elas seriam usadas em uma ofensiva contra Rafah, mas não tomou outras medidas nem ameaçou rever o apoio ao governo israelense na guerra contra o Hamas.