O anúncio da morte do brasileiro-israelense Michel Nisenbaum, 59, cujo corpo foi encontrado pelo Exército de Israel nesta sexta-feira (24), faz com que suba para quatro o número de brasileiros assassinados pelos terroristas do Hamas após os ataques de 7 de Outubro.
Nisenbaum era o único cidadão brasileiro na lista de sequestrados pela facção palestina —o Exército israelense informou que ou ele foi morto já no momento da captura ou no caminho para o cativeiro, onde os restos mortais foram localizados, em Jabalia, no norte de Gaza.
As outras três vítimas estavam na festa eletrônica Nova, invadida pelos terroristas. Eram eles Ranani Glazer, 23; Bruna Valeanu, 24; e Karla Stelzer Mendes, 42. As mortes foram confirmadas nos dias seguintes aos ataques.
Além dos quatro, uma filha de brasileira também foi morta nos ataques. Era a israelense Tchelet Fishbein, 18, feita refém em um kibutz. Outro filho de brasileiro, Gabriel Yishay Barel, 22, foi assassinado na rave.
Relembre abaixo as histórias de Ranani, Bruna e Karla.
Ranani Glazer, 23
Nascido em Porto Alegre, Ranani Glazer havia se mudado para Israel fazia cerca de sete anos. Depois de concluir os estudos em uma escola israelense, prestou o serviço militar obrigatório e, depois, passou a trabalhar como entregador em Tel Aviv. Segundo a imprensa gaúcha noticiou à época dos ataques, sua mãe ainda morava no Rio Grande do Sul, e ele tinha pelo menos um irmão, Rudy Glazer.
Amigos o descreveram como alegre e desprendido, cujo sonho era alcançar a fama como DJ. Glazer estava no festival de música eletrônica Nova —uma edição local da festa brasileira Universo Paralello—, com a namorada, Rafaela Treistman, e um amigo, Rafael Zimerman.
Na ocasião, Zimerman relatou à Folha o que aconteceu no momento da ofensiva. Segundo ele, a invasão teve início ao amanhecer, quando a festa foi interrompida pelo barulho de mísseis, e seus organizadores pediram que o público saísse à procura de refúgio. No caso do trio de amigos, o destino foi um bunker à beira da estrada.
Pegaram carona para chegar até o local, situado em um ponto de ônibus, e observaram o bunker ficar cada vez mais cheio, a ponto de abrigar cerca de 50 pessoas. Glazer chegou a publicar um vídeo de dentro do abrigo em que comparava a situação a uma “cena de filme”.
Foi então que, nas palavras de Zimerman, “veio o inferno”. Terroristas começaram a atacar o bunker com granadas e tiros e, ao vencerem a resistência de policiais, jogaram gás no abrigo e começaram a atirar.
Zimerman e Treistman sobreviveram. Glazer, não. Ele completaria 24 anos poucos dias depois dos ataques.
Bruna Valeanu, 24
Estudante de comunicação e marketing na Universidade de Tel Aviv, Bruna Valeanu estava no festival de música eletrônica Nova, um dos principais locais atacados pelos terroristas do Hamas no 7 de Outubro.
Carioca, havia se mudado do Rio de Janeiro para Tel Aviv há cerca de dez anos justamente em busca de segurança, segundo Nathalia, uma de suas irmãs que continuava a viver na capital fluminense. Nathalia contou à Folha que Bruna chegou a ligar para a mãe, que mora nos arredores de Tel Aviv, na manhã do sábado dos atentados, mas ela estava dormindo.
A mãe retornou a ligação quando despertou com as sirenes de alerta para buscar abrigo em um bunker, e ouviu da filha que estava tudo bem. “Talvez para não preocupar nossa mãe, que certamente ficaria muito nervosa”, disse Nathalia.
Bruna relatou estar em uma região de mata, sob tiroteio e com muitos feridos ao redor. Um amigo que estava na festa disse que eles se esconderam em um kibutz próximo. Em determinado momento, ele escapou e conseguiu fugir. Bruna ficou, assim como um de seus colegas de trabalho.
A confirmação da morte ocorreu três dias depois, em uma publicação feita no Facebook por outra irmã, Florica. “A minha neném virou uma estrelinha no universo. Te amo para sempre”, escreveu.
Karla Stelzer Mendes, 42
Karla Mendes estava na festa eletrônica no sul de Israel, perto da fronteira com Gaza, acompanhada do namorado, que também morreu. No momento em que os terroristas invadiram o local, ela chegou a mandar mensagens para seus amigos, de acordo com o jornal O Globo. “Fomos para o mamada [um tipo de bunker], para nos proteger. […] Aí vieram os terroristas e jogaram uma bomba dentro do mamada. A gente saiu correndo. Tem um amigo nosso que ficou lá”, disse ela, em áudio.
Carioca, Mendes “se apaixonou por Israel e ficou”, disse à Folha, na ocasião, Marcella, uma amiga dela que vivia em Saquarema (RJ), na Região dos Lagos. “Ela viu a oportunidade de desbravar o mundo”, afirmou. A distância geográfica não cortou, porém, os laços entre as duas, e Mendes tinha visitado Saquarema, cidade onde cresceu, apenas três meses antes dos atentados.
“Ela era muito livre, gostava muito de viajar. Era sinônimo de vibração, de energia boa”, disse Azeredo. “Amava os animais. A gente brinca que ela gostava mais de bicho do que de gente.” A amiga afirma que Mendes tinha um filho, Caio Stelzer, fruto de um relacionamento com um morador de Saquarema.
Foi também em Saquarema que Mendes descobriu uma de suas grandes paixões: a capoeira. Azeredo afirmou que ela frequentou por muitos anos a Associação Cultural de Capoeira Guarda Negra e não só havia se tornado instrutora da atividade como continuava a participar das aulas da entidade online.
As autoridades israelenses confirmaram que o corpo dela foi encontrado seis dias depois dos ataques.