A França anunciou o envio de mais de mil agentes de segurança para a Nova Caledônia, território no oceano Pacífico pertencente ao país europeu, nesta quinta-feira (16).
A medida —antecedida por uma declaração de estado de emergência no arquipélago pelo presidente Emmanuel Macron na quarta-feira (15)— busca controlar a turbulência que tomou conta da região no início da semana, quando legisladores em Paris começaram a debater uma reforma do modelo eleitoral local.
Hoje, apenas eleitores registrados em 1998 e seus descendentes podem participar das eleições regionais. Os deputados franceses querem estender esse direito a qualquer um que more na ilha há pelo menos uma década. Mas líderes da comunidade indígena kanak, que viviam no arquipélago desde antes da sua colonização pela França, em meados do século 19, contestam a mudança, e afirmam que a expansão do direito a voto reduzirá a sua influência sobre as instituições locais.
A insatisfação com os legisladores europeus levou a uma onda de protestos marcada por confrontos entre os manifestantes e as forças de segurança, ataques a edifícios e tiroteios.
Autoridades francesas afirmam que centenas ficaram feridos, incluindo 64 agentes, e outras cinco morreram, sendo um deles um policial baleado acidentalmente por um colega. Além disso, pelo menos 206 pessoas foram presas —a população total do território é de cerca de 270 mil habitantes.
Louis Le Franc, representante do Estado francês no local, afirmou que a noite de quarta-feira foi “menos violenta” que as duas anteriores.
Mesmo assim, tiros ainda eram ouvidos na capital do arquipélago, Nouméa, na manhã da quinta-feira, e em um bairro carente no norte da cidade, muitas lojas haviam sido saqueadas. “Viemos pegar o que havia de comida nas lojas. Precisamos de leite para as crianças. Não considero isso um saque”, disse à reportagem um morador que pediu anonimato.
Macron defendeu “retomar o diálogo político”. Uma videoconferência que ele havia proposto a deputados do território para discutir a situação não ocorreu não ocorreu, no entanto.
“As diferentes partes não querem conversar entre si no momento”, disse o Palácio do Eliseu, acrescentando que o líder falaria “diretamente com os deputados” em separado.
O primeiro-ministro, Gabriel Attal, por sua vez, anunciou o envio do Exército “para proteger os portos e o aeroporto da Nova Caledônia”, o estabelecimento de um toque de recolher e a proibição do TikTok, que, segundo ele, está sendo usado pelos manifestantes.
A reforma eleitoral recebeu sinal verde dos deputados na quarta-feira. Agora, precisa ser aprovada pelo Senado para entrar em vigor.