Após semanas de especulação, Pequim e Moscou anunciaram nesta terça que o líder chinês, Xi Jinping, recebe o presidente da Rússia, Vladimir Putin, para uma visita de dois dias, a partir de quinta-feira (16).
A primeira viagem de Putin após ser reeleito será “a convite do presidente Xi Jinping”, segundo nota curta da diplomacia chinesa. Até segunda, Pequim vinha evitando confirmar o encontro. Putin havia dito há três semanas, num evento de empresários na Rússia, que esperava visitar a China neste mês de maio.
Segundo o site do governo russo, os dois devem discutir questões de cooperação estratégica e problemas internacionais e regionais, além de participar de uma noite de gala pelo 75º aniversário das relações diplomáticas. Putin segue depois para Harbin, no nordeste da China, onde abre uma feira de comércio.
A ansiedade russa se evidenciou na semana passada, quando Putin anunciou exercícios com armas nucleares no momento em que Xi Jinping iniciava sua visita à França, em que um dos temas foi a discussão de saídas para a Guerra da Ucrânia. A questão se estendeu aos encontros do líder chinês também na Sérvia e na Hungria.
Paralelamente, como informou a chancelaria chinesa na sexta (10), o enviado de Pequim para buscar saídas para a crise ucraniana, Li Hui, visitou ao longo da semana Turquia, Arábia Saudita e outros países, em busca de apoio para medidas que visam conter o conflito. Também se comunicou, com o mesmo propósito, com os governos de Brasil, Indonésia, Cazaquistão e outros.
Entre as propostas que teriam alcançado “acordo amplo” estão convencer Rússia e Ucrânia a não ampliar os confrontos para mais regiões e a buscar condições para o diálogo direto entre as duas nações. Também teria havido concordância, entre os consultados por Li, na “oposição ao uso de armas nucleares e aos ataques a instalações nucleares pacíficas”.
A sequência de negociações diplomáticas chinesas prossegue nesta semana, sem vínculo direto com a guerra, com a visita do chanceler sul-coreano a Pequim e com a abertura das conversas em Genebra, na Suíça, entre a China e os Estados Unidos sobre inteligência artificial, inclusive de uso militar. Também foi anunciada, no Japão, a visita de uma comitiva militar chinesa, retomando intercâmbio que havia sido suspenso por Pequim.
China e Rússia vinham apresentando sinais de distanciamento nos últimos meses. As exportações chinesas para Moscou, criticadas por Washington com ameaças de sanção, diminuíram 13% em março e 10,8% em abril com base na moeda chinesa, em relação aos mesmos meses do ano passado, segundo a Administração Geral de Alfândegas.
Pequim também elevou, na semana passada, as tarifas sobre a exportação de produtos para a Rússia. A medida foi recebida na imprensa russa como motivada em parte pelas filas na fronteira e pela falta de contêineres, mas também para responder temporariamente às pressões europeias, prevendo redução nos próximos meses.
De sua parte, a Rússia teria começado a importar “equipamentos de defesa” produzidos pela Índia, adversária geopolítica da China. Foi o que noticiou a imprensa indiana na semana passada, com repercussão na russa. Moscou teria usado para as operações o equivalente a US$ 4 bilhões de suas reservas na moeda indiana, acumuladas com a venda de petróleo.
Mais concretamente, as forças militares russas anunciaram na última sexta o início da construção de bases nas ilhas ao norte do Japão, ampliando o risco de conflito na Ásia num momento em que Pequim lida com tensão militar em várias frentes, inclusive no mar do Sul da China, com as Filipinas, e no estreito de Taiwan.
Na próxima segunda (20), toma posse o novo líder da ilha, Lai Ching-te, que é refratário a Pequim, embora tenha abandonado a defesa da independência de Taiwan durante a campanha eleitoral. A expectativa é para o tom do discurso de posse, que poderia iniciar nova crise. Para Pequim, a China continental e Taiwan são duas partes de uma só China.
Além das questões de segurança, a cúpula Xi-Putin deve voltar a tratar da construção de um novo gasoduto, Power of Siberia 2. Defendida por Moscou, mas com resistência de Pequim, a obra pode ser abandonada e seguir outra rota, de menor custo. Prevista para atravessar a Mongólia, ela passaria agora pelo Cazaquistão.
O embaixador cazaque, Dauren Abayev, deu entrevista à agência Tass detalhando o projeto, que já teria sido assinado por seu país e por Moscou. As declarações ecoaram tanto em mídia estatal como social, em Pequim, alimentando os rumores que vêm de anos, sobre como o gás russo hoje fornecido à Europa poderia chegar à China.