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Guerras fazem número de deslocados internos bater recorde – 14/05/2024 – Mundo

Os conflitos em Gaza, Sudão e República Democrática do Congo aumentaram o número de deslocados internos no mundo ao recorde de 75,9 milhões no fim de 2023, divulgou o Centro de Monitoramento de Deslocamentos Internos (IDMC, na sigla em inglês), nesta terça-feira (14).

Trata-se de um aumento de 6,8% em relação a 2022, quando a ONG sediada em Genebra registrou 71,1 milhões de deslocados internos. De acordo com o relatório anual da organização, a cifra cresceu 50% nos últimos cinco anos —o equivalente a um aumento de 22,6 milhões. As altas mais expressivas aconteceram em 2022 e 2023.

Ao contrário dos refugiados, que vão para o exterior, os deslocados internos permanecem em seu país, mas são obrigados a abandonar suas casas. Segundo o IDMC, metade das pessoas nessa situação no fim de 2023 vivia na região da África subsaariana.

Os deslocamentos no Sudão, na RDC e nos Territórios Palestinos correspondem a quase dois terços dos motivados pela violência em 2023.

Esse fator, aliás, é o principal para esse tipo de migração. Conflitos armados foram os motivos para fugir de 68,3 milhões dos que estavam longe de suas casas no fim de 2023, o equivalente a quase 90% do total. Outros 7,7 milhões de deslocados no mesmo período haviam fugido por catástrofes naturais.

Ao longo de todo o ano, o IDMC registrou 46,9 milhões de deslocamentos forçados de pessoas: 20,5 milhões devido a conflitos e violência e 26,4 milhões por catástrofes —em relação a este último número, o terceiro maior registrado ao longo de um ano desde 2014, um terço aconteceu na China e na Turquia.

“Nos últimos dois anos, constatamos um número alarmante de pessoas obrigadas a fugir das suas casas devido a conflitos e à violência, inclusive em regiões onde a tendência parecia melhorar”, declarou Alexandra Bilak, diretora do IDMC. “Os conflitos e a destruição impedem que milhões de pessoas reconstruam suas vidas, muitas vezes durante anos.”

O Sudão é um exemplo. O país, mergulhado em um conflito que deixou milhares de mortos em pouco mais de um ano, tem 9,1 milhões de deslocados. Ao longo de 2023, combates entre o Exército e um grupo paramilitar rebelde provocaram 6 milhões de deslocamentos forçados, número que supera o total registrado nos 14 anos anteriores.

Esse é o segundo maior fluxo do tipo ao longo de um ano em apenas um país, superado apenas pelos 16,9 milhões registrados na Ucrânia em 2022, quando a Rússia invadiu a nação do Leste Europeu.

Na Faixa de Gaza, onde a guerra entre Israel e Hamas já deixou mais de 35 mil mortos em sete meses, de acordo com fontes ligadas à facção, havia 1,7 milhão de deslocados no final do ano passado. O número de deslocamentos no território palestino ao longo de 2023, por sua vez, foi o dobro —3,4 milhões.

A ONG não monitora apenas o número de pessoas deslocadas, mas também o número de vezes que os cidadãos afetados precisam mudar de abrigo dentro das fronteiras de seu país.

Em Rafah, cidade na fronteira de Gaza com o Egito, por exemplo, alguns moradores já acumulam cinco ou seis deslocamentos internos, afirmou a ONG na semana passada. Rafah é o último refúgio da guerra para mais de um milhão de palestinos, é alvo de ordens de retirada do Exército israelense.

“Nunca registramos tantas pessoas forçadas a abandonar suas casas e comunidades. É um veredito contundente das falhas na prevenção de conflitos e na promoção da paz”, afirmou Jan Egeland, diretor do Conselho Norueguês para os Refugiados, ONG que criou o IDMC em 1998.

“O sofrimento e os deslocamentos perduram mais do que o ciclo atual. Com muita frequência, a situação é enfrentada com silêncio e negligência. A falta de proteção e assistência sofrida por milhões de pessoas não pode continuar”, disse Egeland.

Fonte: Folha de São Paulo

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