Esta é a edição da newsletter China, terra do meio desta terça-feira (14). Quer recebê-la toda semana no seu email? Inscreva-se abaixo.
Autoridades dos EUA e China se encontram nesta terça (14) na Suíça para discutir um potencial tratado de regulação sobre o uso militar de inteligência artificial. A reunião será a primeira de um grupo de trabalho intergovernamental sobre a tecnologia e faz parte dos acordos estabelecidos entre Joe Biden e Xi Jinping durante a cúpula da APEC em São Francisco no ano passado.
A ideia é alcançar uma lista de compromissos voluntários sobre a aplicação de IA em armamentos. Os dois países chegaram perto de anunciar iniciativa semelhante em 2023, quando fontes de ambos os lados confirmaram negociações para banir o gerenciamento de armamento nuclear por algoritmos inteligentes.
Embora um acordo não tenha sido anunciado à época, China e EUA seguiram as conversas, sobretudo nos chamados “Tracks 1.5 e 2”, termos usados para classificar diálogos não oficiais entre dois lados por meio de interlocutores (academia, think tanks e oficiais governamentais).
Washington enviou o conselheiro presidencial e diretor sênior de tecnologia e segurança nacional, Tarun Chhabra, e o enviado especial interino do Departamento de Estado para tecnologias críticas e emergentes, Seth Center. A China não tinha confirmado quem seriam os seus representantes até o fechamento da newsletter.
A agência de notícias Xinhua informou em nota que o encontro também será usado para debater “questões de segurança global”, sem detalhar os tópicos específicos da agenda.
Por que importa: os dois países estão na vanguarda do uso de IA e querem garantir que humanos estejam no topo da cadeia de comando em caso de um potencial ataque nuclear.
-
Sem regulação, China e Estados Unidos arriscam entrar em uma espiral corrida armamentista com consequências desastrosas, cenário que ambos os lados querem evitar.
Pare para ver
“Ninfa do Rio Luo”, arte atribuída ao artista Gu Kaizhi. A tela, uma ilustração do poema homônimo escrito pelo príncipe Cao Zhi da dinastia Jin, é considerada uma das mais influentes na tradição paisagista chinesa tradicional. Leia mais sobre aqui (em inglês).
O que também importa
★ Um zoológico chinês entrou nos trending topics da rede social Weibo após tingir o pelo de cães da raça chow chow e expô-los como pandas. Localizado na província de Jiangsu, o zoológico de Taizhou afirmou que não conseguiu obter a licença para receber pandas de verdade e por isso optou por “uma alternativa cativante”. A ideia incomum atraiu a fúria de vários internautas que acusaram a administração do local de enganar visitantes e submeter os cães a riscos devido à toxicidade da tinta. O porta-voz do zoológico negou a acusação, dizendo em entrevista ao Qilu Evening News que pintar o pêlo dos cachorros equivale a mudar a cor do cabelo para humanos. Os falsos pandas continuam em exibição.
★ Cientistas chineses descobriram uma forma de produzir chips ópticos em massa que driblam sanções dos EUA. A informação é do South China Morning Post. Os chips usam componentes fotônicos para processar informações, o que barateia e melhora a velocidade de transmissão e o consumo de energia. Se funcionar, a técnica promete dar uma considerável vantagem aos chineses. Uma startup em Xangai anunciou que pretende trabalhar com os cientistas para escalar a produção e suprir o mercado doméstico.
★ O Ministério da Economia pretende arrecadar cerca de 1 trilhão de yuans (cerca de R$ 713 bilhões) com a venda de títulos especiais do tesouro nesta semana. O plano é para utilizar os fundos para estimular setores-chave da economia e lidar com a desaceleração observada no país desde o início do ano. Os títulos terão prazos de 20 a 50 anos e a emissão começará em 17 de maio. O primeiro-ministro chinês, Li Qiang, pediu que o ministério faça uso do dinheiro para “apoiar a implementação de estratégias nacionais importantes, bem como a construção de capacidades de segurança em áreas-chave”.
Fique de olho
Pequim negou as acusações das Filipinas de que esteja construindo uma ilha artificial na zona econômica exclusiva do mar do Sul da China. Os filipinos afirmam que detectaram “pilhas de corais mortos e esmagados por bancos de areia” no arquipélago de Spratly, que fica na região.
O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional das Filipinas, Jonathan Malaya, anunciou que militares do país vão intensificar a vigilância na região para exercer a “responsabilidade de proteger e garantir que o meio ambiente não seja danificado”.
Pequim acusou o governo em Manila de “espalhar rumores e deliberadamente difamar” a China. O porta-voz da chancelaria chinesa, Wang Wenbin, disse que os filipinos tentam “enganar a comunidade internacional, o que é inútil” e pediu que a questão seja tratada por negociações e consultas.
Por que importa: a disputa entre os países aumentou desde o início do ano, com militares chineses disparando canhões de água contra embarcações filipinas que se aproximam de um navio ancorado na região. Como resposta, Manila se aproximou dos Estados Unidos e sinalizou que pretende integrar o QUAD, um grupo criado por Washington com Índia, Austrália e Japão inicialmente com viés diplomático e econômico, mas que caminha para uma aliança militar.
Para ir a fundo
- Quer entender o efeito das sanções americanas à indústria de semicondutores da China e por que o assunto é prioridade nacional em Pequim? Este episódio do podcast Inside China traz um bom resumo sobre o assunto. (gratuito, em inglês)
- O Sixth Tone publicou nesta semana uma reportagem bem interessante que discute como a beleza feminina vem sendo abordada pela arte tradicional chinesa há vários milênios. Baseando-se no livro “Images of Her in Ancient China”, o texto discute os valores esperados das mulheres na sociedade e como estes conceitos vêm evoluindo. (gratuito, em inglês)