Um dia depois do maior ataque com mísseis que realizou desde que foi invadida pela Rússia no ano passado, a Ucrânia voltou à carga nesta quinta (14) contra defesas antiaéreas na Crimeia anexada e um navio de patrulha de Moscou no mar Negro.
Os resultados ainda são nebulosos, com a tradicional disputa narrativa entre os adversários. O serviço de inteligência ucraniano disse anonimamente a repórteres que conseguiu destruir mais um sistema antiaéreo S-400 perto de Ievpatoria, cidade ao norte do porto de Sebastopol, objeto do ataque da quarta (13).
Segundo o relato, novamente forças especiais desembarcadas com botes na costa desabilitaram a unidade de radar do S-400, que teve o veículo lançador atingido então por duas versões contra alvos terrestres do míssil antinavio Netuno. Isso ocorreu, como imagens mostraram no fim de agosto na mesma região.
Um vídeo ainda não verificado circula em redes sociais com uma grande explosão perto de Ievpatoria, mas sem detalhes. O Ministério da Defesa russo, por sua vez, confirmou que houve o ataque, mas que ele teria sido feito com 11 drones, todos abatidos nessa versão da história. Moscou operava antes da guerra 248 desses sistemas e, segundo o site de monitoramento Oryx, 4 foram destruídos até aqui.
A pasta russa também afirmou que o navio-patrulha Serguei Kotov, que opera no mar Negro e já participou de abordagem contra navios de carga civis, foi atacado por cinco drones navais. Todos foram afundados por fogo de armas da embarcação, disse o ministério. O barco já havia sido atacado anteriormente.
As ações ocorreram um dia após Kiev alvejar um grande navio de desembarque e um submarino que estavam em docas secas para reparo em Sebastopol, a sede da Frota do Mar Negro desde o século 18 que, após o fim da União Soviética em 1991 e até a anexação da Crimeia em 2014, seguia lá por um acordo com Moscou.
Até aqui, não houve nem discurso, nem ação retaliatória de grande porte de Moscou, para surpresa de alguns analistas. O foco na península tem grande valor simbólico, pois ela é considerada nos meios políticos russos como uma peça inegociável em uma eventual tratativa de paz com os ucranianos —algo que não está, de todo modo, no horizonte.
Quando a Ucrânia atacou pela primeira vez a ponte que Putin inaugurou em 2018 para ligar a região anexada à Rússia continental, em outubro passado, a retaliação foi pesada, na forma de uma campanha de destruição da infraestrutura energética ucraniana. Nesta madrugada, houve registro de ataques com 22 drones em toda a Ucrânia, com 17 deles sendo derrubados, segundo Kiev.
Do ponto de vista estratégico, os ucranianos parecem querer degradar primeiro a capacidade de defesa russa e, depois, a de empregar os seis grandes navios de desembarque anfíbio que restaram aos inimigos no mar Negro. Eles seriam essenciais caso a contraofensiva de Volodimir Zelenski conseguisse cortar a ponte terrestre entre a península e a Rússia, estabelecida pela ocupação do sul do país.
O problema até aqui para a Ucrânia é que a contraofensiva em si já está chegando ao fim de sua vida útil antes de as chuvas do outono do Hemisfério Norte chegarem, talvez em um mês. E não houve um avanço decisivo.
Da mesma forma, Moscou pressiona para aumentar seus ganhos territoriais, ainda que marginais, antes de as condições climáticas tornarem o terreno impróprio para grandes operações. Segundo a Defesa da Ucrânia, os russos estão ameaçando tomar Marinka, importante cidade de Donetsk (leste do país), além de seguir em combates duros na direção de Kupiansk, mais ao norte.