Moradores da Faixa de Gaza esperam um possível acordo de cessar-fogo na nova rodada de negociação que acontece no Cairo, nesta segunda-feira (29), após novos ataques aéreos de Israel em Rafah matarem pelo menos 30 palestinos, segundo afirmaram médicos no território.
No domingo, autoridades do Hamas disseram que uma delegação liderada por Khalil Al-Hayya, vice-chefe do Hamas em Gaza, discutiria com mediadores do Qatar e do Egito as propostas entregues pelo grupo terrorista e por Israel nos últimos dias.
A expectativa é que os negociadores cheguem a um acordo antes que Tel Aviv intensifique ainda mais os bombardeios à Rafah. Após diversos pedidos do governo israelense para desocupar o norte de Gaza desde o início do conflito, em outubro, a cidade, ao sul, está superlotada e abriga mais de 1,5 milhão de palestinos, segundo a ONU.
Uma pessoa informada sobre as negociações em Cairo disse à agência de notícias Reuters que a proposta de Israel envolve um acordo para libertar menos de 40 dos cerca de 130 reféns ainda detidos em troca da soltura de palestinos presos. Uma segunda fase consistiria em um “período de calma sustentada” —uma resposta à demanda do Hamas por uma trégua permanente.
O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, pediu à facção para aceitar a proposta “extraordinariamente generosa” de Israel. “A única coisa que está impedindo o povo de Gaza de ter uma trégua é o Hamas. Eles têm que decidir e têm que decidir rapidamente”, disse o americano em uma reunião do Fórum Econômico Mundial realizada na capital da Arábia Saudita. “Estou esperançoso de que eles tomarão a decisão certa.”
A visita a Riade é a mais recente de uma série de viagens do secretário de Estado ao Oriente Médio desde que o Hamas invadiu o sul de Israel e matou cerca de 1.200 pessoas, segundo Tel Aviv. Antes disso, os EUA estavam envolvidos em um acordo que tentava normalizar a relação entre o reino e o Estado judeu e que foi afetado pelos combates.
“Para avançar com a normalização, duas coisas serão necessárias: calma em Gaza e um caminho crível para um Estado palestino”, afirmou Blinken.
Ambas as questões, porém, parecem interditadas na região. Em troca da normalização, os estados árabes pressionam Israel a aceitar um caminho para a criação de um Estado palestino nas terras capturadas na guerra do Oriente Médio de 1967, algo que o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, rejeita repetidamente.
“Em qualquer acordo futuro, Israel precisa ter controle de segurança sobre todo o território a oeste do [rio] Jordão”, disse o chefe do governo mais à direita da história do país em janeiro. “[A criação de um Estado palestino] se choca com nossa ideia de soberania.”
Grande parte de Gaza foi reduzida a um terreno baldio após seis meses de ofensiva israelense. Depois do ataque do Hamas em outubro, Tel Aviv impôs bloqueios ao território palestino e lançou um ataque aéreo e terrestre que matou mais de 34 mil pessoas, segundo autoridades de Gaza, controlada pelo grupo terrorista.
Desde então, a grave escassez de alimentos, combustível e medicamentos fez a fome se alastrar entre a população e deixou hospitais inoperantes. A crise preocupa diversas organizações internacionais que atuam no território e até mesmo aliados de Israel, que se veem obrigados a pressionar o país por garantias humanitárias.
Enquanto isso, as ofensivas entre Israel e Hamas seguem em curso. Nesta segunda, as brigadas al-Qassam, principal grupo armado do Hamas, disseram ter disparado mísseis do sul do Líbano contra uma posição militar israelense. Sirenes de ataque aéreo dispararam no norte do país, mas não houve relatos imediatos de vítimas.
Já em Rafah, ataques israelenses em três casas mataram pelo menos 30 palestinos, disseram médicos nesta segunda. Um ataque à cidade, que Israel diz ser o último reduto do Hamas em Gaza, tem sido antecipado há semanas, mas governos estrangeiros e as Nações Unidas expressam preocupação de que tal ação possa resultar em um desastre humanitário ainda maior, dada a quantidade de refugiados amontoados na região.