O premiê espanhol Pedro Sánchez tomou o país e seu partido de surpresa ao anunciar, nesta tarde de quarta-feira (24), a suspensão temporária de sua agenda pública para “refletir e decidir” se permanecerá ou não no cargo.
A decisão acontece horas depois de o jornal espanhol “El Confidencial” publicar uma nota sobre uma investigação aberta em Madri contra a esposa do premiê, Begoña Gómez, por supostos crimes de tráfico de influência e corrupção relacionados a empresas que se beneficiariam de ajudas e contratos com o governo.
A acusação é baseada em uma denúncia feita pelo sindicato Manos Limpias (“mãos limpas”), cujo presidente, Miguel Bernad, vinculado à ultradireita, foi absolvido há dois meses após uma condenação por extorsão.
Em uma longa carta aberta à cidadania publicada na rede X, Sánchez, atualmente em seu terceiro mandato, pontua: “A essa altura, a pergunta que me faço legitimamente é: tudo isso vale a pena?”.
“Esse ataque não tem precedentes, é tão grave e tão bruto que preciso parar e refletir com minha esposa”.
“Muitas vezes esquecemos que por trás dos políticos há pessoas”, escreve. “Sou um homem profundamente apaixonado pela minha esposa, que vive impotente com a lama que se estende sobre ela dia após dia”.
Na carta, o premiê não dá mais detalhes sobre as supostas acusações contra sua esposa.
Em vez disso, enfatiza ser vítima de uma “estratégia de perseguição” “perpetrada há meses” pela imprensa conservadora e os principais partidos de direita, PP e Vox.
“Eu não sou ingênuo; estou ciente de que denunciam Begoña não porque ela tenha feito algo ilegal, (…) mas porque é minha esposa. Como também tenho plena consciência de que os ataques que sofro não são contra mim, mas sim contra aquilo que represento: uma opção política progressista, apoiada eleição após eleição por milhões de espanhóis”.
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Horas depois da publicação da carta, as reações começaram a aparecer de todos os lados.
A ministra de Ciência, Inovação e Universidades, Diana Morant, afirmou que o premiê “abriu seu coração” e “se dirigiu de maneira inédita a cada um dos espanhóis”. Como todos do Partido Socialista (PSOE) e da coalizão do governo, enfatizou seu apoio ao premiê.
Já o porta-voz do PP, Cuca Gamarra, reclama que Sánchez “dedicou quatro páginas para escrever 14 vezes direita e ultradireita e zero linhas para dar explicações”.
“Não sei quais são as razões profundas que movem Pedro Sánchez, mas (ele) costuma fazer movimentos táticos que ninguém espera”, pondera Carles Puigdemont, líder catalão de Junts. “Mas, se não se trata de um movimento tático e realmente o motivo é a campanha da direita espanhola contra sua presidência utilizando sua família — eu sei perfeitamente como ele se sente nesse caso”.
Empregando o termo que se alastrou nas manchetes do dia, o ex-vicepresidente do governo, Pablo Iglesias, declarou: “Pedro entendeu hoje o que significa o ‘lawfare’ e que atores judiciais e midiáticos queiram destruir sua vida”.
Sánchez virá a público na próxima segunda (29) para anunciar sua decisão final.
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