Israel continua a impor restrições “ilegais” à ajuda humanitária para a Faixa de Gaza, disse o escritório de direitos humanos da ONU nesta terça-feira (16). Apesar das afirmações das autoridades locais de que as barreiras diminuíram, o órgão declarou que o auxílio ainda está muito abaixo dos níveis mínimos.
Porta-voz do escritório de direitos humanos da ONU, Ravina Shamdasani pediu “acesso irrestrito” para auxiliar a população local. “Israel continua a impor restrições ilegais à entrada e à distribuição de assistência e a realizar uma destruição generalizada da infraestrutura civil”, disse, em coletiva de imprensa em Genebra.
Por sua vez, Tel Aviv nega impedir o ingresso de assistência na região. O país tem enfrentado pressão internacional cada vez maior para permitir a entrada de mais suprimentos na Faixa de Gaza desde que atingiu um comboio de ajuda humanitária em 1º de abril, matando trabalhadores humanitários internacionais.
“Aqueles que entregam ou tentam acessar a assistência humanitária nunca devem ser atacados”, acrescentou Shamdasani.
Os militares israelenses alegam que permitiram o ingresso de caminhões com suprimentos por um recém-inaugurado ponto de passagem no norte, pela primeira vez, na última quinta-feira (12). Israel havia dito no início deste mês que reabriria o ponto de passagem de Erez, que estava fechado desde o início da guerra com o Hamas em outubro passado.
A agência da ONU para crianças (Unicef) pediu um aumento nas evacuações médicas de Gaza, dizendo que menos da metade dos pedidos foi bem-sucedida.
“Com pelo menos 70 crianças feridas todos os dias, precisamos que o número de evacuações médicas aumente para que as crianças possam ter acesso aos cuidados de que precisam com urgência”, disse Tess Ingram, do Unicef, na mesma coletiva de imprensa.
Ingram descreveu casos de crianças que ela conheceu e que sofreram ferimentos a bala e amputações durante o conflito. “Seus corpos despedaçados e suas vidas fraturadas são um testemunho da brutalidade que está sendo imposta a elas”, acrescentou.
O Conselho de Segurança das Nações Unidas tem manifestado preocupação com a crise humanitária na Faixa de Gaza com frequência. No mês passado, a ONU cobrou deIsrael mais medidas para entregar ajuda à população palestina diante de um cenário de “fome iminente”.
Os membros do órgão mais importante da ONU expressaram “profunda preocupação com o custo humano do conflito, a situação humanitária catastrófica e a ameaça de fome iminente” e pediram “a remoção imediata de todos os obstáculos à entrega de ajuda humanitária” à população civil.
Após pressão de Washington, Israel chegou a anunciar a reabertura das passagens para o envio de ajuda a Gaza. O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, havia conversado com o premiê israelense, Binyamin Netanyahu, e condicionou o apoio a Tel Aviv a uma mudança de postura do aliado na guerra, o que incluiria cessar-fogo, proteção dos civis e combate à crise humanitária.
Mas a reabertura das passagens anunciada por Israel ainda não foi implementada. O ministro da Defesa do país, Yoav Gallant, disse ao Conselho, na época, que as medidas estavam em fase de preparação.
A ofensiva de Israel na Faixa de Gaza, desencadeada pelos ataques mortais do Hamas na fronteira, em 7 de outubro, transformou grande parte da região em um deserto, com milhares de pessoas deslocadas e amontoadas em abrigos repletos de doenças.
Mais de 33 mil pessoas foram mortas em Gaza desde 7 de outubro, de acordo com as autoridades de saúde palestinas, e mais de 76 mil ficaram feridas. A guerra foi iniciada em resposta aos ataques do Hamas a Israel, nos quais 1.200 pessoas foram mortas e 253 pessoas foram feitas reféns, de acordo com o registro de Israel.